15 janeiro 2008

ENCHENTE RETRATA A POBREZA


Pobre vive reclamando que nunca tem nada...
Vem a enchente e eles dizem que perderam tudo...
A piadinha é de doer...
Pior ainda é perder tudo mesmo...
A tromba d´água que despencou sobre o litoral sul traz à tona todas as mazelas da sociedade...
Gente catando seus trapos, juntando seus pedaços, recolhendo pertences e parentes...
O olhar deseperançado esperando o barco que não voltará inteiro...
E sem marinheiro... O corpo a onda traz depois...
A estrada que se partiu ao meio...
Essas desgraceiras nunca caem na casa do prefeito...
Nem de político algum...
Eles moram no alto...
Lá na várzea só os pobres...
Os miseráveis...
Sempre foi assim e sempre será...
A inundação vista do helicóptero nem é tão feia...
O helicóptero visto lá de baixo é esperança...
Que saia alguma escada resgatando uma vida...
Que seja lançada uma caixa de mantimentos...
Que deus descesse e andasse sobre as águas e resgatasse as almas...
Nessas horas não aparecesse nem o padre, quanto mais deus...
Deus vem de farda vermelha...
Vestido de bombeiro... De salva vidas...
Vem mesmo é fantasiado de vizinho...
Porque pobre ajuda outro pobre...
Até melhorar, bem disse Sérgio Ricardo...
A única coisa que pobre não perde é a solidariedade...
O resto a água leva... E de novo com a água salgada que brota do rosto eles compram, em vez, no crediário...
Em outros tempos eu tinha vergonha de ser pobre...
Mas pobre nunca perde por nocaute...
Vai perdendo aos pontos...
Cai, levanta, vem pra luta outra vez...
Vem-me água nos olhos quando vejo essas enchentes...
Vem-me também um puxão de orelhas dado pela natureza...
A gente tem tudo e tantas vezes esmorece...
A gente não perde nada na enchente...
Até o motor do carro o seguro paga...
É...
E a gente faz piada da pobreza...
Ser pobre é muito doloroso...
Mesmo que amanhã faça sol e tenha um pagode na laje...

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