28 junho 2016

O GOLPE DOS VELHINHOS



Didi, Juninho, Lindinho e Nariz eram companheiros de longa data. Aposentados, viviam distraindo o tempo nas mesas de jogos da praça.  Truco, dominó, dama eram s lida diária. Nenhuma aposta. O que valia mesmo era economizar os trocados das minguadas pensões. Quanto mais permanecessem jogando, menos tempo para usufruir de vícios. Despesas inúteis já bastavam as da caderneta da farmácia com os remédios de uso contínuo.
Entre uma jogada e outra seguiam a ladainha de comentários rotineiros sobre as monótonas notícias dos telejornais de ontem e as manchetes da  banca.
Meu time ganhou, o político roubou.
Frases típicas do dia a dia: “Viu só...”, “Que absurdo essa roubalheira...”
Sua vez, Didi... resmungou Nariz.
To pensando!
E precisa pensar para jogar truco?
Calma pessoal! ... ponderou Lindinho. O Didi anda lento. É da idade. Vamos ficar assim.
A gente poderia tirar o pé da lama, abriu um sorriso o Didi.
Vixe! A coisa é séria... Concordaram os parceiros de mesa.
Não tiro mais empréstimo consignado, afirmou Lindinho.
Joga logo... protestou Juninho.
Olha aqui, pessoal Poderíamos estar em Las Vegas tomando Cherry, ao invés desta praça, protegendo-nos das pombas.
Tomou seu remédio hoje, indagou Lindinho.
Tomei, tomei... Tive uma ideia para ganharmos uma grana.
Sua vez, Juninho...
Os olhares arregalaram-se ante a firmeza da fala.
Nariz arriscou: ”Como?”
Vocês não prestam atenção nos noticiários? Viram como é fácil desviar milhares de dólares sem que ninguém perceba? É só nos organizarmos.
Ma Che! Baixou o espírito de antepassados no Juninho. Vamos é acabar presos. Não viu o “Mensalão”?
Ta quase todo mundo solto, retrucou Didi. E de mais a mais, somos idosos, podemos pedir redução de pena ou então prisão domiciliar por motivo de saúde.
Sua vez, Nariz...
Mas, e nossas partidas de truco? Entristeceu-se Lindinho.
Jogamos na cadeia. E é só um tempinho. Pense nas vantagens que teremos. Comida boa, roupa nova. Podemos ter até enterro de luxo, com direito a mausoléu. Prometeremos devolver parte dos ganhos, como prova de boa vontade.
Sei, não...
Nariz arriscou: “Dá para incluir minha sogra na delação premiada? Jurar que a idéia foi dela?” Juninho concordou, gargalhando: “Ela merece. Era pior que tornozeleira eletrônica para pegar no seu pé e descobrir onde você estava”.
O Didi pode estar certo, afirmaram sorrisos cúmplices.
Sua vez, Juninho...
Por que não pensamos nisso antes?
Sua vez, Nariz...
Não custa arriscar...
Sua vez, Didi...
Pior que estamos, não ficamos...
Sua vez, Lindinho...
Peraí... To no Whats apps  vendo se meu cunhado quer ser laranja...
Desliga esse celular, assustou-se Juninho...
Pode estar grampeado, alertou Didi...
Ele disse que topa...  Só que ele quer cinco por cento...
Alguém sugere qual tipo de golpe podemos dar?
Vender fraldas descartáveis para fundos de pensão?
Genial, Didi. Verdadeiramente acima de qualquer suspeita.
Sua vez...

21 junho 2016

NOITE DE SEGUNDA PERDIDA NA TV



Bem que tentei!
Pacientemente, ouvi as primeiras respostas da Sra. Vaselina Di Simulada da Silva no programa Roda Viva, transformado pela entrevistada em Roda Morta.
Vencido pelo tédio, descobri, entre uma falta de resposta e outra, que a programação da TV aberta, às segundas-feiras, tem piores opções. Verbi gratia, aprendi que há o Hyper Pop na Rede TV, a ficção de que há Polícia 24h. na Band, Little Mouse e Raio da Fama no SBT. Numa zapeada, tive de esconder-me atrás do sofá, temeroso de ser atingido por uma bala perdida vinda de uma rajada de metralhadoras Globais. Esperei o plim-plim e conseguindo resgatar o controle remoto da explosão de bombas, minha ansiedade fez-me voltar à TV Cultura, na esperança de ouvir alguma resposta direta e prática da “eterna candidata terceira via”, que por duas eleições ludibriou boa parcela da população.
Em vão.
Nada de útil foi proferido por ela.
Cansado de tanta dissimulação, num gesto de “desustentabilização proativa progressiva”, fui para minha Rede e dormi frustrado pelo duplo desperdício de energia. A elétrica e a minha.

11 junho 2016

PRENDE O JAPA!




Impressiona-me a batalha de dedos apontando quem é mais culpado nesta rede de corrupção da “Pátria amada,  braziu”. Parece aquelas brigas de infância “ele me xingou primeiro”. Porque o Cunha é aquilo, o Dirceu fez primeiro, O Vaccari pedia tanto, a Odebrecht deu de monte, et coetera, et coetera et coetera...
Lembro-me de conhecida “piadinha” jurídica, quando o Magistrado noviço ao julgar seu primeiro caso ouve o reclamante e terminada a audiência dirige-se ao escrevente: “Ouviu a história? Condenarei o acusado”.
Ao que retruca o escrevente: ”Excelência, desculpe-me, mas escute o acusado antes”.
O reclamado é ouvido e o Magistrado novamente conversa com o escrevente: “Que mentiroso o acusador, condená-lo-ei!”
“Excelência, desculpe-me, mas o senhor já avaliou as provas?”, retrucou o escrevente.
Provas para lá, provas para cá, o Juiz indeciso, após tantas certezas refreadas por alertas do escrevente para não se precipitar, finalmente toma a decisão: “Absolvo as partes e condeno o escrevente”.
Prenderam o Japa!
Diferentemente do escrevente que nada fizera, mas culpado de um crime ocasional, justificadamente condenável, a prisão do Japa servirá uns dias com escudo de defesa e arma de ataque das “vítimas do golpe”.
Inocentes defensores ou cúmplices do “Lullo-petismo” ficarão desviando a atenção dos mais incautos.
Até que entendam que tanto o escrevente quanto o Japa eram meros cumpridores de ordens legais. Nada tendo a ver com os crimes
Enquanto os criminosos, a conhecer-se da história do “braziu varemnóis”, estarão entre acordos e delações, livrando suas caras e, devorando lautas pizzas, rindo do escrevente e do Japa.

07 junho 2016

NO PONTO DO ÔNIBUS



Todas as manhãs, nos longos minutos à espera do ônibus, no ponto lotado, tenho por costume – ou seria vício, mania? – ficar lendo as notícias de primeira página dos jornais e as capas de revistas.
“Político gasta dois mil dólares para jantar em Nova York”.
“Marido de atriz ganhava mais de noventa mil reais por mês”.
“Cantora recebe trezentos mil para financiar livro de memórias”.
“Diretores da Petrobrás desviam três milhões para partidos políticos”.
Repetitivas notícias. Sem novidades.
Só muda os valores de minha indignação.
Enquanto decido qual jornal comprar, matuto olhando para os rostos sonolentos que também esperam seus ônibus.
Quantos ali têm noção de quantos Pratos Feitos seria possível comprar com os dólares de um único jantar?
Saberiam a diferença entre esses milhares de dólares e milhões de reais?
Rápidas contas à cabeça.
Eu mesmo não faço a menor ideia de quantos cofrinhos de porquinhos seria necessário encher para completar o menor valor acima - dois mil dólares – em moedinhas.
O que eu faria com três milhões de reais, sem que seja correr maior risco de um sequestro? 
Volto a tentar adivinhar o que outros fariam?
Tenho quase certeza que o rapaz de camisa de clube de futebol, tivesse dois mil dólares, não iria jantar em Nova York. Talvez trocasse o fogão, a geladeira de sua mãe e com uma “boa” compra de mercado, faria para um “super- churrasco” no domingo.  
Se ganhasse três milhões de reais, apostaria na “mega-sena” novamente?
Aquele de paletó e gravata? O casal abraçadinho?
Comprariam um apartamento e aplicariam o restante.
A garota com livros? Realizaria o sonho de poder apenas estudar.
Quantos apenas não invejam e fariam o mesmo das manchetes?
O dinheiro, enfim, é mera ficção.
Sonhos e pesadelos.
Quando falta, sonha-se em tê-lo como solução de problemas. Alguns simples e imperceptíveis quando se tem em excesso.
Um pesadelo ante ao risco de perdê-lo. Em aplicações na Bolsa ou na falta do emprego.
Distraído nas divagações, quase não percebo a chegada de meu ônibus.
Na fila para o embarque, ouço um tilintar aproximando-se.
“Uma moeda para comprar leite!” A dona da voz de tom súplice apresenta-se, tocando-me o braço. Traz numa das mãos uma panelinha velha com algumas moedas e noutra puxa a criança de uns três anos.
Instantâneo dilema à mente.
É correto dar-se esmola? Estímulo à mendicância? A criança pode ser de “aluguel”.
Ora, também não são corretas muitas das coisas que fazem com o dinheiro “público”.
Reviro o bolso e jogo na panelinha algumas das moedas que usaria para comprar um dos jornais.
Ela agradece e seguimos nossas vidas.