18 fevereiro 2013

I DON’T SPEAK ENGLISH



 “ “The book on the table” ...“O Buick tem tablet” ... “O Burton teve a Taylor”?
As assemelhadas frases retrocitadas (ou supracitadas) significam quase exatamente nada para mim e milhares de pessoas brazilianas que não falam (nem entendem) uma única Word em Inglês.
Minha ignorância e incapacidade em aprender inglês sempre me foi dolorosa. Via os colegas de “Gymnasio” cantarem e não entendia nientes o que John, Ringo, Paul e George diziam em suas músicas.
Acredite, se quiser: Um de meus professores no colegial (lembram-se dele?) foi o professor João Fonseca, gabaritado autor de “Ih! Espique English”.
Não sei por que tamanha dificuldade com o Inglês.
Aprendia com alguma facilidade os outros três idiomas ensinados naqueles bons tempos de escola pública. Está certo não lembrar praticamente mais nada de Francês, exceto os primeiros acordes da Marselhesa, do Platini e do Zidane. No Espanhol tropeço, mas não digo “Cueca Cola”, mesmo que esteja colando. No português, rastejo. Se dissesse que sei o Português estaria faltando com a verdade. Poucos têm essa capacidade. É quase impossível saber-se plenamente o português. Tanto é verdade que o governo estendeu a aplicação das novas normas ortográficas, até que um ex-presidente aprenda minimamente as velhas.
Escutou bem, corretor do Word? Pare de me corrigir...
Curioso foi, num dos vestibulares que prestei, haver obtido um dez na prova de inglês.
Três hipóteses para tal milagre.
A primeira era que traduzir um texto daqueles, qualquer criança de cinco anos, nascida na Inglaterra ou USA – exceto Miami – conseguiria. A segunda era o vestibular ser para Direito, onde se privilegia o Latim, diga-se “en passant”, - vg. (verbis gratia) de passagem - também não entendo bulhufas de pitipiricas. Na terceira, e mais provável, o encarregado da correção iria dar-me um zero. Começou a tremer de tanto rir com as asnices de minha prova, a caneta caiu e riscou um traço à frente do zero. O responsável pela transcrição da nota para a folha de fechamento, traduziu que o risco era o número um e escreveu dez.
Para não me dizer absolutamente ignaro quando se trata de inglês, aprendi que JIP (Japonês, Inglês e Português) são as únicas nacionalidades em que o feminino também usa chapèuzinho (quando estudei, chapèuzinho tinha o charme do acento grave). Quem quiser comprovar o uso do chapèuzinho pelas mulheres dessas nacionalidades, pode visitar o bairro da Liberdade em São Paulo, Trafalgar Square in London ou a padaria do seu Manoel, aqui na Vila.
Meu sofrimento com o inglês atingiu seu auge quando Diana apareceu em minha vida. Não a Lady Di, mas uma professora da faculdade de Jornalismo.
Talvez fosse uma dose de ciúme.
Ela chegava sempre com um tal de “Good Night”. Não dava a mínima para qualquer palavra que eu lhe dizia em Português. Ia embora com o “bye bye” ou com Solon (seria aquele grego? Afinal ele era legislador, jurista, poeta e mais 998 utilidades, tanto que era apelidado de Bombril entre seus pares).
Não falava uma única palavra em língua nativa, isto é em Português, pois a língua nativa do “braziu varemnós” é o Tupi-guarani.
Talvez, não soubesse falar nossa língua.
Desculpável...
O que não era desculpável eram as notas que obtínhamos.
No final do ano, com o intuito de melhorar nossa média e evitar a DP (v.g. dependência), propôs um trabalho para os alunos do fundão. Aqueles com notas abaixo da média. Teríamos que apresentar uma entrevista, em inglês, com alguém famoso.
Nosso grupo compunha-se por cinco alunos ou dez analfabetos funcionais, pois íamos duplamente mal. Tanto na última flor do Lácio, quanto na língua de Robin Hood.
Quatro seriam os entrevistadores.
Eu, com minha tradicional sorte, fui sorteado para ser o entrevistado.
Ao menos poderia escolher quem seria.
Escolhi Bjorn Borg, tenista sueco que maravilhou o mundo nas décadas de 70/80. Afinal, sabia alguns termos inglêses do tênis. Coisinhas como ace, game, set-ball, match-point, advantage, smash, tie-brake, Orange-bol, Roland Garros, Taça Davis, Wimbledon, Thomas Koch, Maria Esther Bueno. Essas palavras que se aprende na transmissão de jogos pela TV.
O entrevistado responderia dez perguntas. Tipo “roda-viva”.
Tudo em inglês.
Óbvio!
Decoramos as perguntas e respostas de forma seqüencial e lá fomos nós. Católicos no centro do Coliseu Romano a espera dos leões, no caso da Leoa.
Na ponta da língua a ordem das respostas.
Tudo ia bem até a sétima pergunta, quando um dos “entrevistadores”, no limiar da ansiedade, trocou a pergunta e fez-me a oitava. Rapidamente respondi o combinado para a sétima.
Algo assim: a pergunta para o Borg aqui era onde havia nascido e respondi minha partida contra Rod Laver (nunca se enfrentaram – o australiano Laver jogou nos anos 50).
A mestra, diga-se “en passant” (verbis gratia de novo - de passagem), lia um texto e parecia não prestar a mínima atenção ao trabalho, quase caiu da mesa e gritou: Stop!
Melhor seria dissesse: Estepe! Afinal era um caso de troca. Trocaram a pergunta. A resposta eu acertara a ordem.
Com aquele olhar meigo do leão vendo a gazela, perguntou-nos: What?
Entendi o ocorrido e travei, gaguejando mais que George VI.
Segundos após, o “nobre” colega – na hora acho que disse fedapê em inglês – percebendo a asneira que fizera, desatou a rir.
Não sei se ria pela graça da situação ou de pavor do que poderia advir.
Farsa descoberta, para completar a tragicomédia, emendei:
Sorry! I am Swedish. I don’t speak English and not understand the question.
Até a teacher caiu na risada, provavelmente causada pelo sotaque norueguês de Bjorn. Traindo-se, disse in Portuguese: Vocês não têm jeito!
Agraciou-nos com honrosa nota five, salvando-nos da temível DP(já explicado).
Bye bye, Solon, bye bye... (Quem lembrou dessa, tem mais de 50).
Thank you, people!