29 abril 2018

PININHA E A DELAÇÃO PREMIADA


Que coisa feia, Gegê!... Escutando na extensão?
Ora, Pina! O telefone tocou e eu estava ao lado......
Quem atende o telefone fixo sou eu... E digo logo que a senhora não está...
Que você está dizendo Pina? Você atende o telefone e diz que não estou?
A senhora quer atender, eu começo a chamar a senhora. Mas, vou avisando... As ligações são quase todas de casa de caridade pedindo donativo, escritório cobrança procurando um tal de Jaílton, uma tal de Milena, empresa vendendo TV por assinatura, essas coisas...
Tem razão, Pina! Melhor não chamar... Mas, esse telefonema não era nada disso, era?
Não! Era a Maroca, que mora na vila... Ela está visitando a mãe lá no Nordeste...
Deve ser coisa importante, ficaram mais de meia hora conversando. A ligação vai ficar cara...
Ela ligou a cobrar...
Pina! Você ficou esse tempo todo numa ligação a cobrar?
Nem percebi o tempo passar... A Maroca começou a contar de um moço que queria namorar com ela. Ela até gostou do rapaz, mas ela já tem um companheiro lá na Vila e...
...E ele não ir gostar de saber a história... essa parte eu ouvi, Pina...
O que mais a senhora escutou?
A parte da noite na praia.
Nossa! Segredo, hein Dona Gertrudes!
Foi divertido...
Não sei!... A senhora já fez aquelas coisas na praia?
Pina... Não é da sua conta...
Ah!... Fez?...
Que tal pararmos a conversa por aqui e você começar a faxina do banheiro?
A senhora não tem senso de humor... Deve ter algo a esconder...
Piiiinaaa! Estou começando a perder o humor....
Ta com medo que eu faça delação premiada?
Delação premiada? Onde você ouviu isso?
Só se fala nisso... No rádio... na televisão... no celular... Não sei direito o que é.
A senhora pode me explicar?
É mais ou menos assim... Uma grupo de pessoas comete um crime... Se alguém confessar e disser quem é o chefe da quadrilha é perdoado em parte.
Deixa eu ver se entendi... O namorado da Maroca – o Zito - “vende uns bagulhos(*)”. O Zico também vende pra “rachar” com o Zito. O Zico é pego num “enquadro”(**). Os “gambés”(***) começam um “esculacho” e o Zico fala que a mercadoria era do Zito “pra livrar a cara”. É isso, Gegê?
Se eu entendi o que você quis dizer com esse dialeto, acho que é...
Isso lá na vila a gente chama de deduragem... Coisa feia! Dá uma confusão!
Pina! A delação é feita por gente rica, político. Combinado entre os advogados e a Polícia Federal, Ministério Público, Magistrados...
Para, dona Gertrudes!... Eu não entendo essas pessoas... Falam umas palavras esquisitas.
Eu também não entendo muitas palavras que eles falam...
Gegê! Vamos falar do que a gente entende?
De que, Pina?
Das fofocas que a Maroca me contou. Fazer fofoca é bem mais fácil, não é?
Desta vez, você tem razão, Pina...
Posso ir buscar um café?
Pode, mas não enrola muito que tem muita faxina e roupa pra lavar.
Tá certo! Café com açúcar ou adoçante?
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(*) bagulho - maconha ou produto de pequenos furtos.
(**) enquadro - batida policial, revista
(***) gambé – Policial Militar
(****) esculacho – agressão policial

25 abril 2018

Orgulho de ser Brasileiro!


Que mentira, que lorota boa! Que mentira, que lorota boa!
Sonho meu! Sonho meu!
Assim não dá, pátria amada!
O orgulho some ao primeiro espreguiçar
Hoje não quero ouvir notícia ruim!
Que coincidência!
No rádio toca Cazuza.
Mostra tua cara antes do galo cantar três vezes.
Melhor nem prestar atenção!
Mudo de emissora!
“Ai! Esta terra ainda vai cumprir seu ideal. Ainda vai tornar-se um imenso Portugal”.
Peralá!...
Meu avô era honesto e um ex-primeiro-ministro lusitano foi preso “aquém-mar”.
Estamos chegando lá... “Braziu varemnóis” também tem um ex-presidente devidamente preso “além-mar”.
É para sentir orgulho disso?
Temos tantas coisa boas.
“Bolsa-família”.
Quem dá mais? Quem dá mais?
“Mega-sena”.
Quem dá mais? Quem dá mais?
Uma vez Flamengo, sempre Flamengo!
Quem dá mais? Quem dá mais?
Tinha que lembrar do Sete a um!
Falando nisso... Como tem “Um...Sete... Um...”!
Dou “Habeas corpus”...
Feito!
Tomaladacá!
Motorista! Rápido!’
Põe a mala no porta mala, leva-a-jato para o apartamento.
Trânsito fechado!
Tá lá o corpo estendido no chão!
Mais um!
Mais um!
Mais um! Mais uma...
Chacina na periferia!
É preciso rebelar-se...
É preciso estar atento e forte...
Alguma coisa acontece no meu coração...
Dor no peito?
Pode estar à beira da morte...
Tínhamos tantos sonhos...
Detalhes tão pequenos de nós dois...
Detalhes?
Há pedras imensas pelo caminho que não dá para desviar.
Nem sentir orgulho!

18 abril 2018

EFEITO COLATERAL DE REMÉDIO?


Só pode ser efeito colateral da medicação.
A bula alerta sobre ocorrências raríssimas de alucinação (0,001% dos casos).
Justo comigo que nunca tive a sorte de ganhar na loteria.
Por mero detalhe de não jogar.
O remédio tive que tomar.
Pensando bem talvez seja alguma armação visando a beatificação “in vitae”.
Esse pessoal é capaz de tudo para voltarem a ser incluídos na Fopag de algum órgão estatal.
Vou digitar de pouquinho, pois não consigo parar de rir.
Ouvi com todos os fonemas o causídico afirmar no meu radinho de pilha:
“Luigi Ignatius, o Puro” está (ops!) lendo (ops! ops!) livros (ops! ops! ops!)...
Pensar que, reza a lenda, o Santo Homem perguntou ao chegar na PF se era arroz, feijão e mistura.
Fez uma expressão feliz quando responderam que era cana.
Fala sério, companheiro!
O “Amigo” nunca foi dado a leitura de livros.
Quando muito perguntava do livro-caixa.
Entretanto, teria afirmado que gostara muito de ser lembrado logo nas primeiras páginas. Nos dois livros havia um capítulo chamado “Inácio”.
Óleo de peroba, como diria vovó...
Me poupem!
A ênclise errada é proposital.


Não é efeito medicamentoso...