27 agosto 2008

OLIMPIADAS - SENTI-ME NELA

(crônica de Pedro Galuchi)
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Senti-me um verdadeiro atleta olímpico.
Para mim, que pratiquei um pouco de atletismo e durante anos fui professor de Educação Física não foi exatamente uma glória, mas uma seqüência de sentimentos quanto aos fracassos dos brasileiros.
Fui quase um decatleta.
O decatlo é uma prova onde em dois dias o atleta corre 100, 400 e 1500 metros rasos, 110 metros com barreiras, arremessa o peso, disco e dardo, salta à distância, à altura e com vara, não nessa ordem.
Fiz uma vez essa prova como avaliação final do curso de atletismo na Faculdade e fiquei com dores uma semana.
Saí de casa com minha mochila de tralhas de aposentado.
Tinha correspondências para colocar no correio, contas a pagar no banco, listinha de compras para o supermercado.
Pesinho light.
Saí em disparada como nos 100 e 400 metros.
Epa!
Uma calçada interditada para obras.
Parece pista de cross-country.
Véspera de eleição acontece essas coisas.
Ótimo!
Aproveito para fazer um pequeno treino de ziguezague entre os carros, com atividade de visão periférica para desviar dos motoqueiros que vêm no corredor.
Passei no primeiro teste.
Antes que me critiquem por não usar a faixa de pedestres, lembro que não atravessei a rua, só desviei da interdição.
Veio-me à memória um treino de alternância de saltos, ao desviar dos buracos da calçada ainda não consertada.
Impulso com o pé direito, amortece com o esquerdo e inverte.
Naqueles tempos o amortecedor patelar ainda não reclamava.
Opa!
Buraco maior à frente.
Corridinha, impulso maior, salto em distância.
Três buracos consecutivos, prova extra de salto triplo.
Ufa! Cheguei a primeira parada.
Senta e espera.
Demora tanto o atendimento que parece o intervalo para do dia seguinte.
Quando chegou minha senha no correio, já estava com vontade de arremessar a mochila, tipo arremesso de martelo.
Mas duas provas fora do programa é muito, não acham?
Próxima etapa era...
Chamem o Takeo! (O primo do PQP).
Distraído com a próxima atividade não vi que o desnível da calçada estava desnivelado.
Rodopiei feito a Daiane e abundei como o Diego.
Acho que fiquei com cara de Jade.
Devo ter dado a típica olhada para ver se ninguém viu e ficado com aquele sorriso amarelo na fachada.
Poxa! Não tinha pensado nisso. Até o sorriso amarelo que a gente dá é falso.
Será que tenho sangue maide in Chaina?
Tudo é possível, desde que encontraram genes caucasianos no DNA do Neguinho da Beija Flor.
Levanta logo que o banco vai fechar.
Hora daquela corridinha de 400 metros, só que com barreiras.
De onde saiu todo esse povo?
Se eu tivesse uma vara saltaria sobre eles.
E se eu tivesse uma vara, contasse com ela e ela sumisse?
Iria ficar muito pior.
Ufa!
Consegui fazer tudo.
Até a compra do supermercado já está feita também.
A mochila deve estar mais pesada que o peso.
Sobrevivi aos meus deveres caminhando pelo bairro.
Arremesso a mochila no sofá e vou curtir a dor no tornozelo.
Ah! Em tempo.
O rascunho desta crônica foi feito enquanto colocava o tornozelo no gelo.
Estão vendo só como o torcedor também sofre com as peripécias do atleta.
Desculpem-me o sofrimento da leitura!
Takeo, como está gelada.
Benhê, pega o controle remoto que vai começar a maratona.

Um comentário:

Enio Luiz Vedovello disse...

E isto que você não citou a luta greco-romana atrás das ofertas do supermercado...