05 agosto 2008
CADÊ O CARRO?
Crônica de Pedro Galuchi
CENA UM
Quase 23 horas.
Olha desesperado para o lugar onde deixava, habitualmente, seu carro.
Ele não está mais lá.
Seu amado e querido fusquinha verde “cheguei” se fora.
Sem seguro.
Onde será a Delegacia mais próxima?
Orelhões naquele tempo das fichas eram raros, mesmo na Avenida Paulista.
Fica estático, encostado na parede, refletindo o quanto custara pagar todas as prestações do carro.
CENA DOIS
Refestelado no ônibus da empresa dorme o trajeto inteiro.
Estava moído do dia inteiro de trabalho.
É acordado pelo pessoal, pois seu local de descer ia passando.
Segure modorrento, passos arrastados até chegar em casa.
Abre o portão, a porta e dorme no sofá.
CENA TRÊS
O telefone toca e ele atende de mau humor.
Onze da noite. Quem será?
O senhor está vendendo um Passat?
Estou, mas isso é hora de ligar.
Desculpe-me, senhor. Não estou querendo comprar o carro, não. Sou o vigia do estacionamento. Só quero fazer uma pergunta.
CENA QUATRO
Essa porcaria (não foi bem isso) não pega.
Pessoal, dá uma força aqui.
Empurra, empurra, dá o tranco, coloca em segunda e nada.
Nem sinal.
Deve ser alternador, motor de arranque, falta de combustível, o cacete.
Volta com o carro para a vaga que está atrapalhando a saída do estacionamento.
Chamar o mecânico, um auto-elétrico, fazer o quê?
Sábado vão cobrar uma nota para vir dar atendimento.
Desiste.
Pega o ônibus e vai para casa todo melado de suor depois do jogo.
Segunda feira resolve isso.
DE VOLTA À CENA UM
Não tem um telefone que funcione em plena Avenida Paulista.
O negócio é esperar o ônibus, ir para casa e ligar de casa para a Polícia.
Epa! O que essa pasta está fazendo comigo?
Eu não vim de casa hoje.
Começa a vasculhar a memória.
Caramba! Não vim por aqui hoje.
Não estacionei o carro aqui.
Quinze minutos de caminhadas após, lá estava ele.
O fusca paradinho no mesmo lugar, inabitual.
Que felicidade!
Agora o problema era outro.
Explicar para a mulher que chegara quase duas horas depois do horário habitual porque esquecera onde deixara o carro.
Se colasse a desculpa, passaria a ser um bom álibi.
CENA DOIS O RETORNO
Benhê! Cadê o carro?
Dormira a noite toda no sofá.
Que carro?
O nosso, ora!
Na garagem.
Não está.
Olhou na rua?
Não está.
Eu nem fui trabalhar de carro ontem.
Foi sim.
Não fui.
Foi.
Não fui.
Foi.
Tinha ido.
A chave no bolso da calça o condenou.
O carro?
O carro passou à noite no estacionamento do emprego, no relento.
E os filhos bem que podem ir um dia a pé para a escola.
VOLTANDO À CENA TRÊS
Que você quer saber a esta hora da noite?
Onde o senhor quer que eu guarde a chave?
Que chave?
A chave do carro que o senhor deixou pendurada na porta do carro.
Joga embaixo do banco, por favor.
E muito obrigado
Salvou-lhe o atraso do dia seguinte.
Ia perder umas duas horas procurando a chave amanhã de manhã.
CONTINUANDO A CENA QUATRO
Uma inhaca desgraçada no ônibus.
Toca a campainha do cérebro e imediatamente a do ônibus.
Desce voando e sai correndo.
O estacionamento fecha às seis.
Faltam quinze minutos.
Correu mais que ponta direita de várzea.
Ufa! Deu tempo.
Acerta os números do bloqueador de combustível e sai de fininho.
Até o próximo sábado inventa uma desculpa para explicar como o carro funcionou.
Ninguém me contou. Eu vi...
E participei ativamente.
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