22 julho 2008

POBRE POVO BRAZIULEIRO

POBRE POVO BRAZIULEIRO
(crônica de Pedro Galuchi)

"Banco reservado a grávidas, deficientes, idosos..."
"Somente trocamos produtos com defeito por outro igual... Duvidas ligue para o PROCON..."
"OAB cancela convenio com Defensoria Pública... População indefesa..."

Leio essas informações e notícias pelo Metrô, ônibus, lojas, jornais, et coetera.
Divago...
Precisava?
Chocante reflexo de um povo mal educado (no bom sentido) e desprotegido, onde vigora o “cada um por si” e o “salve-se quem puder”.
Estou necessariamente velho, mas com a memória suficientemente razoável para me lembrar da infância e juventude, onde quando um idoso ou uma grávida entrava no ônibus ou bonde, me levantava e oferecia o lugar, assim como ajudar um deficiente visual (naquela época, sem ofender ninguém, era o ceguinho) a atravessar a rua era usual e corriqueiro.
Comerciantes trocavam sem maiores questionamentos a bicicleta que comprei errado, pois o afilhado queria uma bola de futebol.
Voltava àquela loja.
Ficava freguês de caderneta.
Aí, houve a evolução das leis.
Precisa-se proteger o idoso, precisa-se proteger o consumidor, precisa-se proteger os deficientes.
Atendimento preferencial.
Lugares definidos.
A provável boa intenção, a mesma que conduz muitas almas ao inferno, trouxe o legalismo extremado.
A insubstituível educação caseira deu lugar à punição externa.
A gentileza, que deveria se obrigação, tornou-se uma obrigação a ser driblada.
E só.
Só levanto se estiver no lugar especialmente destinado.
Só troco a mercadoria dentro do previsto em lei.
Antes que lancem pedras, há exceções eu sei.
Mas são exceções.
À falta de gentileza, fazer o quê, se não isso não se aprende na escola.
Para solverem-se pequenos problemas do dia a dia, criou-se o Juizado Especial para rápidas soluções.
Todos têm direito a se defender.
Bom, não é bem assim.
Aquele seu sofá de má qualidade que quebrou quando a sogra se sentou vai ser trocado em ano, ano e meio... Enquanto isso, sente em almofadas, no chão.
Em alguns casos você vai precisar de advogados.
Se não tiver como pagar, há os advogados do Estado.
Em São Paulo, havia, pois a OAB e o Estado não se entendem e o povo que já era cozido no banho maria, que se frite.
Se for enfrentar o Estado, fritou-se mesmo.
Tem o cozimento dos precatórios até que você apodreça, morra e pare de encher.
Nem adianta chamar o Takeo (o primo do PQP).
Por enquanto, ainda não preciso invocar nenhuma lei para sentar-me no ônibus e como não sou de muito consumir, raramente tenho problemas de troca de produtos.
Mas estou na fila de precatórios, por conta de uma ação há 13 anos.
Sinto-me indefeso.
Como devem se sentir milhões de braziuleiros.
Muitos analfabetos que sequer sabem que têm direitos.
E assim não enchem.
------------------------
Pedro Galuchi
Livros à venda nos sites
http://www.ciadoslivros.com.br
http://www.livrariacultura.com.br
http://www.allprinteditora.com.br

Estarei na Bienal do Livro dias 18 a 20 (à tarde) no stand da All Print
Tarde/noite de autógrafos em Outubro

Nenhum comentário: