10 julho 2008

DESVIOS DE MEDICAMENTOS



Recentemente, uma emissora de TV fez uma série de reportagens sobre vantagens que médicos recebem para receitar este ou aquele remédio deste ou daquele laboratório.
Se fosse só isso.
Que decepção!
Em todo lugar existem bons e maus profissionais advirão as ladainhas explicativas dos próceres da categoria, que a identidade de todo corporativismo não faz a “limpeza étnica” necessária, cassando registros de envolvidos não em um furto de pequeno valor monetário, mas no custo social deste.
No meio médico, a julgar-se pela postura dos líderes da categoria, o CREMESP (Conselho Regional de Medicina de São Paulo), isso não seria a exceção, mas o varejo.
O CREMESP insurgiu-se contra um jornal de grande circulação impetrando uma liminar para impedir que suas contas, com possíveis irregularidades, fossem divulgadas.
Fico atacado com essas histórias.
Começo a acreditar em três historinhas de varejo, que me foram psicografadas.
As três narram passagens sobre o desaparecimento de materiais hospitalares.
Os principais suspeitos?
Médicos e enfermeiras.
Na primeira revelação, uma auxiliar de enfermagem municipal, contava ter sido advertida pelo médico-chefe do posto de saúde, pois controlava demais o estoque de medicamentos pelo qual era responsável.
Estava “regulando” o fornecimento de remédios “tarja preta” aos médicos.
A outra passagem veio-me num sonho e foi dedutivo.
O pesadelo aconteceu comigo.
Não pude realizar um simples raio-X, de emergência, por falta de filme.
A discussão entre os radiologistas estava no ritmo de “ontem tinha um monte de filme aqui”.
O gato deve ter comido.
Na semana passada, outra enfermeira “mensageou-me” que ficou estarrecida ao ver sua chefe colocando na mochila duas caixas de preservativos com doze dúzias ou uma grosa cada (não precisa fazer contas – são 288 unidades) destinadas a distribuição no trabalho preventivo da AIDS.
Justificou o flagrante dizendo que eram para seu filho.
Não esclareceu se o rapaz era um garanhão ou garoto de programa passivo.
Lembrei-me da anedota, onde uma enfermeira traída pelo amante médico, num espasmo de ciúme, furou todas as camisinhas do almoxarifado.
Foi um estouro de licenças maternidades e separações.
Haja pensão para tantas crianças.
Como dizia aquele ditado:
“De grão em grão, a galinha rouba todos os ovos”.
Acho que era isso.
Literalmente, é de doer a falta de um analgésico, de um medicamento desses vendidos, a preço de bananas, nas gôndolas dos supermercados farmacêuticos, mas muito caros e fazendo falta para a população mais carente que precisa da saúde pública.
Eu tinha plano de saúde, fui a um hospital conveniado e constatei a torção de tornozelo, ficando na tala quietinho.
Já os insignificantes preservativos subtraídos para um filho “privilegiado” é porcentagem na cesta básica do pobre, ainda mais se engravidar e fizer nascer mais um pobre para ser vítima.
O que acontece com essas pessoas que furtam produtos da rede hospitalar pública?
Via de regra, nada.
Há a falta de denúncias, a falta de rigor na apuração administrativa, o corporativismo.
De concreto, pode acontecer um processo contra mim e, não tendo como comprovar as mensagens abstratas psicografadas, serei condenado.
De espírito limpo, antecipo eventual pena alternativa, dispondo-me fornecer duas caixas de preservativos, sem furo, para alguma entidade social e duas caixinhas de Dormonid, ainda no prazo de validade, que comprei e sobraram.
Ou melhor, forneço uma caixinha só porque a outra vou precisar para poder dormir e nunca mais psicografar essas histórias.

Um comentário:

Enio Luiz Vedovello disse...

Tudo bem que é um tipo de prática comum em vários lugares do mundo (basta assistir o House M.D. para confirmar). Mas nem por isto é menos condenável. E, num país carente de recursos para a população, como o nosso, onde os impostos regiamente pagos somem nos caminhos da burocracia e da corrupção, a coisa é ainda mais imoral.