21 março 2008

CAIPIRA PERDIDO NA CIDADE GRANDE



Quem tiver dinheiro para comprar carne, em nome de Deus, eu libero para comê-la na Sexta-Feira Santa.
(D. Paulo Evaristo Arns)

Isso nunca passara pela minha cabeça...
Ter que pedir informação no centro de São Paulo...
Para quem não conhece São Paulo, irei traduzindo o desconhecido, entre parênteses...
Andei de bonde (transporte público movido, quanto eu conheci, a energia elétrica que corria sobre trilhos)...
Vi a construção do Metrô (transporte público movido a energia elétrica que corre sobre trilhos e em alguns casos, sob a terra)...
Assisti a jogo de várzea onde passa a Avenida 23 de Maio (Avenida larga, com dez quilômetros de extensão, que corta São Paulo do Centro da cidade ao Aeroporto de Congonhas – onde caiu o avião da TAM)...
Fui a Cidade da Criança (evento comemorativo realizado em Outubro nas décadas de 60 e 70) quando era no Parque do Ibirapuera (maior parque público da cidade, localizado a quatro quilômetros do centro da cidade)...
Depois a cidade da Criança foi no Anhembi (local onde são realizados todos tipos de feiras e onde está localizado o sambódromo) e hoje nem existe mais...
Fui assistir ao Arrelia (grande palhaço do século vinte) no circo da loja Clipper (loja de departamentos)...
Deslocar-me em São Paulo, especialmente no centro, era, para mim, como ir do banheiro para a cozinha...
Ato instantâneo... Sem pensar...
Está certo... O sentido inverso é mais instantâneo...
Perguntassem-me onde fica a loja tal, eu indicava de cabeça...
Aliás, esse domínio de localização eu tinha de muitos locais, inclusive em cidades que eu nunca visitara...
O meu senso de localização sempre foi muito bom...
Hoje erro até o lado do controle remoto...
Geralmente, vou ao centro de Metrô, mas estava no MASP (museu de Arte que fica na Avenida Paulista – aquela da São Silvestre – a Avenida Símbolo da cidade...)
Tomei um ônibus na Avenida Nove de Julho (avenida que sai do centro e corta a cidade até o bairro do Itaim) e segui para o Vale do Anhangabaú (local no centro da cidade)... Uns dois quilômetros de distância...
Há dez anos iria à pé...
A desculpa é que tinha pressa e estava um sol de rachar caatinga...
Além do quê, eu iria ficar com uma catinga...
Deixemos para lá esses detalhes...
Desci do ônibus na Praça da Bandeira, que fica colada no Vale do Anhangabaú...
São separadas apenas pela já citada Avenida 23 de Maio...
Esqueci o que estava dizendo...
Onde eu ia mesmo?...
Ah! Desci do ônibus na Praça da Bandeira e tinha que ir ao Vale do Anhangabaú, que ficava colado...
Ótimo... Uns cinqüenta metros...
Quem surge à minha frente?
A Avenida 23 de Maio, cercada por grades para que as pessoas não tentem atravessá-la... É suicídio... É absolutamente impossível atravessá-la...
O movimento é tão grande que na década de noventa, uma pessoa que atirou de um viaduto nessa avenida e morreu sem bater no chão...
Caiu em cima de um carro...
Duro foi o motorista provar que não atropelara o suicida...
Teria sido o primeiro atropelamento pelo teto do carro...
Ah! Eu queria chegar no Anhangabaú...
Vi a passarela...
Fácil...
Andei para um lado...
Andei para outro...
Atravessei o terminal dos ônibus e...
Rendi-me...
Chamei o fiscal das linhas de ônibus...
Meio sem jeito, perguntei...
Como eu faço para chegar ao Vale do Anhangabaú...
Ele gentilmente apontou o vale e ia explicar onde era...
Interrompi... Eu sei que é lá... Quero saber como eu chego a passarela que está passando aqui em cima da gente...
Ele riu...
Deve ter me achado um velho caipira...
Apontou-me uma escada rolante, mandou-me seguir à esquerda, depois à direita e subir uma escada...
Entenderam? O que importa é que eu entendi...
Cheguei ao Vale, mas na próxima vez vou de carro que eu sei como se faz...
Só não sei onde porei o carro...

Um comentário:

AMADORA DAS ESCRITAS disse...

Desenvoltura,grande conhecimento crítico, político e social...Enfim, quando venho a este blog,sinto-me cercada da mais inteligente e inovadora leitura.
Parabéns!
Sou tua seguidora ortodoxa!
Você é um escritor de grande porte!
Um craque!
Um abração e obrigada pela oportunidade!
izildinha