OS ENVIADOS DE DEUS

Se tem uma coisa que eu não suporto é ver os “pastores” da Praça da Sé...
Aparece um sujeitinho, mal acabado, com uma bíblia rançosa no sovaco e se intitula enviado de deus...
Pobre deus!!!
Com representantes destes, quem, em sã consciência e dentro de parâmetros normais psiquiátricos vai acreditar em sua existência...
Nem o deus aristotélico agüentaria ficar contemplando aquilo...
Vai juntando gente...
E como tem desocupado...
O esquizóide conversa com o marco zero...
Fala com a placa da banca de jornal...
Chama a atenção do engraxate...
Acorda o garoto que estava fumando crack...
Interpreta pensamentos...
Condena a garrafada (mistureba de plantas que curam de dor de cabeça a leucemia...) e garante que só deus cura...
Nunca tive coragem, mas tenho uma vontade de interromper um desses cidadãos (eles votam...) e dizer não entendi...
Será que ele começa de novo que nem guia de cidade histórica ou vai compelir a população a me agarrar e exorcizar, naquele estilo “diz a loja”... “Diz a loja”...
Um dia experimento...
Agora, que o povo é curioso, crédulo e tonto, lá isso é...
Provo e comprovo...
Em 1974, ao final da ditadura militar dois colegas e eu, perfeitos três patetas, achamos uma placa de um candidato a vereador...
A eleição fora na véspera...
Pegamos a placa, lotamos o Karmann Ghia e fomos para o museu do Ipiranga...
Este sobrevivente subiu uns três degraus do monumento e começou a falar frases absolutamente desconexas...
Os dois colegas aplaudindo...
Foi juntando gente...
E eu falando...
Juntou umas trinta pessoas...
Pensei com meu zíper...
Vai sujar...
Vai aparecer meganha e ferrou...
DOPS...
Estudávamos na USP...
Pronto...
Três universitários em cana...
Pedi licença ao distinto público, dizendo que tinha outro comício a realizar e me mandei...
Aplaudido...
Só me vinha à cabeça aquela canção da década de sessenta...
“Quem não sabe tocar violão, nem pistão toca surdo...”
“Não tem bronca, porque neste mundo tem bobo pra tudo...”
Até para ficar parado escutando as interpretações bíblicas do patrício...
E dar seu suado dinheiro para encher o bolso do "pastor"...
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