Não dá mais para divisar chaminés no céu.
Estão abaixo da linha dos arranha-céus.
Arranha-céus?
Isso era na época das chaminés.
Hoje são torres.
Residenciais ou empresariais... Não faz diferença...
Num verdadeiro jogo de xadrez procuro a razão da fumaça que polui a cidade e entope meu pulmão.
Será o escapamento dos carros?
Busco abrigo temporário da fumaça e vejo um bar onde a placa na parede proíbe fumar.
Peço para usar o banheiro e tomar uma água.
Quanto é?
Dois... Um da água, um do uso do banheiro.
Dou cinco e enquanto aguardo o troco vejo a diversidade de maços de cigarro espalhados pelo caixa do estabelecimento.
A placa avisa que não aceitam cartão de crédito para a venda de cigarros.
Procuro a lógica num dilema.
É proibido fumar, mas vende cigarros.
Não aceita cartão, porque se o fumante morrer antes do vencimento, o crédito vira fumaça?
Pego o troco e saio tropeçando nas bitucas da calçada sem lixeiras.
Antes fossem só bitucas.
Tropeço em pedaços de gente.
No limite da divisa de ser ou não ser humano.
Todos abaixo da linha da pobreza dormem embaixo de alguma coisa.
Uma marquise, uma caixa de papelão, um viaduto, nossos narizes.
Quase nem sinto mais o cheiro da fumaça, com a atenção desviada para o cachimbinho que dança na mão do garoto que pede um (centavo, cruzeiro, real) para se alimentar.
Alimentar o vício que lhe impuseram.
Olho para cima e procuro uma chaminé.
Vejo janelas de arranha-céus.
Experimento acenar para uma sacada e ninguém retorna o gesto.
Talvez os cachimbinhos também acenem, mas ninguém lhes vê.
Embarco no ônibus a expelir fumaça.
Desço no Parque arborizado para uma caminhada.
Dizem que o oxigênio limpa organismo.
Mas só sinto gás carbônico.
Chego em casa preocupado.
Melhor relaxar num banho quente... Sentir o stress sair pela fumacinha do calor do chuveiro... Melhor ainda: Uma sauna!
Na parede da sala, antes de ligar a TV e ver que o governo está muito preocupado em acabar com o tráfico, observo a velha foto com uma antiga paisagem.
Ao fundo da avenida arborizada, bem ao fundo havia uma única chaminé.
Prestando mais atenção, havia crianças brincando pela rua e nenhum carro estacionado.
Não deve ser foto.
Deve ser a imaginação do pintor.
Adormeço.
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Jorginho, o assunto foi fumaça...
E hoje tem o Botafogo, hein!
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