O senhor quer que eu segure?
Por favor! Obrigado.
Lá estava a pasta no colo da jovem.
Melhor seria ter se levantado e cedido o lugar ao invés de segurar-lhe a pasta.
Ela tenta continuar lendo o livro, mas não tem como.
Imediatamente lembrei-me da citada crônica do mestre.
A vítima, isto é a pessoa que carrega uma mala, um fichário, uma pasta nem se mexe mais.
Quem se oferece para segurar objetos alheios em transporte público torna-se fiel depositário. Totalmente responsável por sua manutenção
Franceses e espanhóis não têm mais essa atitude educada.
Cariocas também não!
Um olho no objeto, outro no dono do objeto.
Epa! Epa! Epa! Nada de sair daí, meu senhor!
Todo cuidado é pouco. Vai que ele some e deixa uma bomba no metrô.
Ou um carregamento de drogas.
E se forem cristais alemães? Se cair do colo, será um mico e tanto. De gentil pessoa, torna-se um irresponsável.
A curiosidade mata!
O que haverá dentro?
Não pode dar nem uma apalpadinha.
O metrô enchendo!
O problema também!
O dono não tem nem como pegá-la de volta. Está quase com a barriga sobre a jovem. Ele era gordo também. Seria melhor se ele se sentasse e ela no colo dele.
Calma que na estação Sé sai metade desse povo.
Quem sabe o dono também.
Quem iria descer na Sé era ela, mas não conseguiu se levantar.
Agora só na próxima.
O drama final!
Como dizer ao homem que precisa devolver a pasta?
Ufa! Um banco vago. O homem faz menção de sentar-se, mas era lugar reservado para pessoas especiais.
Não tem jeito!
Senhor! Vou descer na próxima...
Ele se abaixa e apanha a pasta.
Uma reduzida inesperada do trem e o inevitável...
O zíper mal fechado da surrada pastinha se abre!
Feita a salada!
Literalmente!
Duas bananas, uma pera e um mamão esborracharam-se no piso sujo do metrô depois de rolarem pelas pernas da moça que foram tocadas pelas mãos do homem, no desespero final de salvar seus pertences.
Fitam-se e os olhares procuram um culpado e pedem desculpa reciprocamente.
Ela mais que depressa desceu na estação seguinte.
Ele sentou-se no lugar dela, puxou a pasta de frutas com o pé para próximo do banco e ficou olhando contemplativamente seu lanche irremediavelmente perdido.
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N.A.- Drummond de modo muito mais brilhante descreveu cena semelhante.
Entretanto se acusado de plágio de idéia, usarei a defesa do autor do Capitão Marvel em relação a plagiar o Super Man, pois a cena de Drummond ocorreu num ônibus e a minha no metrô.
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2 comentários:
Adorei seu texto!Sempre tornando divertidas situações dificeis!Abraços,
"[...] Franceses e espanhóis não têm mais essa atitude educada. [...] Epa! Epa! Epa! Nada de sair daí, meu senhor!
Todo cuidado é pouco. Vai que ele some e deixa uma bomba no metrô. [...]"
Diga-se de passagem, ao menos na França a necessidade de alguém segurar uma pasta ou o que valha por não ter lugar para sentar-se é infinitamente menor...
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