17 dezembro 2007

QUEM ESTÁ ME SEQUESTRANDO?

Vai dirigindo, doutor... È um seqüestro...
Virei estatística... Estou sendo vítima de um seqüestro relâmpago...
Oh! Raios... Como diz meu amigo finlandês...
Coitado de mim... Pior para o seqüestrador...
Vai ver o que é bom seqüestrar um “privilegiado” cidadão que tem conta bancária...
Vêm-me a dúvida e o medo...
Não sei se tenho mais medo do seqüestrador ou do serviço bancário...
Os banqueiros são os reais donos desta “terra brazilis”...
Eles podem tudo...
Eu disse podem, ó camarada...
Por exemplo, tenho arrepios ao ver uma porta giratória...
Já fiquei sob cárcere privado nelas umas dez vezes...
Tive de ameaçar tirar o cinto e arriar as calças e berrar...
Aí apareceu um gentil gerente com aquela carinha de não tenho culpa e manda abrir...
Acho que é assim que procedem os bandidos que não tem ligações mais íntimas com os seguranças terceirizados das agências...
Já fui avisando o seqüestrador:
“Não posso sacar mais de mil reais da conta no terminal automático... E vamos logo que se passar das dez da noite é só “cenzinho”...”
Já estou meio amigo do meliante e complemento: Eles dizem que é para minha segurança...
Doutor, pára no posto e enche o tanque que nós vamos pegar estrada...
Ih! Companheiro!!!... (mera expressão, hein...)
O posto não aceita cheque... Está lá na placa...
O frentista emenda: “O senhor me desculpe, mas não aceitamos cartão de crédito...”
E Essa bandeira do seu cartão de débito não trabalhamos...
O shopping está fechando... Ainda bem, senão ele ia saber que não tenho mais crédito no cartão de crédito... Que vexame...
Pobre seqüestrador...
Não pode fazer compras no shopping, sacar só cem reais após as 22.00h, nem encher o tanque do meu carro para fugir...
Vai pagar mico...
Tento remendar: “O senhor está vendo... Não é má vontade minha... O senhor chegou tarde... O que sobrou do meu salário foi seqüestrado pelo banco antes...”
“Tem pressa, não... A gente espera a agencia abrir...”
“O senhor quer sacar R$ 5.000,00?....” “...Não temos esse dinheiro... O senhor deveria avisar com 48 horas de antecedência...”
Pisquei para o seqüestrador...
“Pode passar um TED ou DOC...”
“Mas o seqüestrador, digo o rapaz, quer em dinheiro... Ele não tem conta bancária...”
Aí, eu descobri porque os seqüestros demoram tanto tempo...
Sacando só mil reais por dia, um seqüestrinho de cinco mil reais demora cinco dias e assim por diante...
A menos que você faça um Crédito direto ao consumidor consignado ou algo assim...
Pode passar numa financeira dessas, que deixam menininhos e menininhas lhe agarrando pela rua...
Só não sei se o prejuízo dos juros será menor que o dinheiro exigido pelo seqüestrador...
“Eu aceito cheque sim senhor...” rosnou o seqüestrador já meio mal humorado...
“Mas tem ágio... Dez pau...” Tenho de passar o cheque para o “fétorin”...
“Très chic, esse meu seqüestrador...” Trabalha com factoring...
Volto feliz ao caixa... Vou poder almoçar... Aquele churrasquinho de gato com suco natural que comemos de madrugada está conversando comigo até agora...
Mais umas duas horas aprisionado na fila e a sorridente caixa me diz que eu não precisava ter enfrentado a fila novamente, mas tenho que pagar tarifa porque o cheque é maior que cinco mil reais...
“Pode ser dois de quatro mil novecentos e noventa e nove reais e noventa e nove centavos...? Eu deixo o troco...”
“Pode, mas seu limite de saque diário no caixa é apenas um cheque... Mais que isso tem tarifa...”, ela retruca...
“Isso é um assalto...”, reclamo...
“Um seqüestro, dotô... Um seqüestro...” rosna, de novo, o seqüestrador...
Chame o ladrão, chame o ladrão, toca coincidentemente a música no saguão da agência...
“Vambora, dotô...” Cutuca-me o meliante...
“Deu no saco... O doutor está livre... Tô perdendo meu tempo...Vou seqüestrar na periferia... Um ambulante... Eles têm grana viva... São “sangue bom”...
E como humilhação final, emenda : "Pode ficar com aqueles Cds de funk e rap que eu deixei no carro...”
Ai... Respiro, aliviado... A burocracia salvou minha vida...
Um segundo, depois, reflito melhor...
Salvou uma ova... Eu podia ter morrido, se o seqüestrador não fosse gente fina...
Com o seqüestrador eu podia até negociar...
Mas, com os bancos...
Não tem negociação... Sugam todo seu salário e ainda cobram tarifa por isso...
Revolto-me com o caixa: ”Está vendo o que vocês fizeram?”
Vocês não deixam nem a gente ser seqüestrado em paz...
Corro atrás do seqüestrador, mas ele já se foi no meio da multidão feliz, porque não tem mais CPMF...

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