28 julho 2010

VELHOS RECICLAVEIS

Estavam em duas ou três caixas.
Velhos, úmidos, rasgados.
Esperando o lixeiro ou o catador de recicláveis.
Deu-me um aperto, enquanto espero o semáforo abrir.
Fossem outros tempos, talvez, sentasse no chão e os folheasse.
Nunca se sabe o que podemos encontrar quando procuramos qualquer coisa ou nada.
Quem já pesquisou dicionários, sabe bem o que isso.
Procura uma palavra, erra pelas páginas e descobre diversas outras com significados que nem fazia idéia.
Estrapilhos devem recolher aquelas caixas.
Pesá-las e vendê-las por um sanduíche ou uma pitada de crack.
Nunca tive coragem de jogar um fora.
Tenho me abstido de transportar mais alfarrábios para casa, por falta de espaço.
Falta de espaço também no cérebro.
O semáforo de transeuntes verdeja e sigo.
Completa a travessia, não resisto a parar e virar-me para olhar mais um pouco para eles.
As páginas dos velhos livros estão condenadas a se tornarem matéria prima reciclada.
Fica a dúvida se as informações que contêm em cada palavra também já cumpriram seu papel.
Num país de tantos analfabetos, funcionais ou não, quanto ensinamento aqueles livros poderiam ainda distribuir.
Penso no trabalho dos escritores.
Tudo indo ao lixo.
Vou em frente, com meu arrependimento de não recolher os condenados.

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