10 setembro 2009
SABIÁ FORA DE HORA
Acordei com um trinar fora de hora.
Consultei o rádio relógio e eram três e trinta. Faltava muito para amanhecer.
O visor não piscava, então não faltara energia.
A TV desligada.
Ufa! Lembrei-me de acionar o timer.
Tentei dormir novamente acreditando fosse um sonho ou aqueles instantes entre sonolência e vigília que temos antes do sono profundo.
O trinar voltou minutos depois.
Encafifei-me!
Parecia um sabiá.
Naquela hora?
Lembrei-me da antiga música dos anos 40, o Passarinho do Relógio, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, que dizia “cuco, cuco, cuco... O passarinho do relógio está maluco...”
Arrisquei abrir a janela e tentar espiar.
As grades de proteção impediam-me de procurar melhor o pássaro maluco que cantava de madrugada.
Insistia!
Tomei coragem e alguns tropeções depois estava quase acordado. Não era minha imaginação.
O pássaro cantava mesmo.
Eu me lembrei que um sabiá há um ano fizera um ninho no pé de maracujá.
Teria voltado e estava comemorando o parto dos ovinhos?
A noite estava lindamente clara e as luzes do prédio vizinho, esquecidas acesas, iluminavam sobremaneira o quintal, espaço raro arborizado no bairro verticalizado.
Lá estava ele pousado no muro.
Trinava e olhava como esperasse alguém ou chamando o dia a raiar tal Chantecler, o galo que imaginava controlar o dia e a noite.
Fiquei hipnotizado olhando o trinado.
Minutos depois, o sabiá deve ter percebido, que assim como eu, tinha acordado fora de hora e provavelmente foi recolher ao seu ninho.
Ou a cantar em outra freguesia, como diria minha avó.
Hoje eu e ele, talvez, estejamos pagando a conta do sono quebrado.
Demorei muito a dormir novamente.
Fiquei imaginando como é interessante trocar-se o dia pela noite.
Quando a cidade se agita recolher-se ao repouso.
Quando a cidade dorme encantar-se com um simples, solitário e maravilhoso cantar de uma ave.
Será que a luz estará brilhante e prédio esquecerá as luzes acesas?
Será que ele se deixará enganar novamente e voltará?
Por via das dúvidas, será de bom alvitre, dar um cochilo durante o dia para o caso dele voltar na próxima madrugada.
Se ele não se assustar com minha desafinação, cantaremos juntos para espantar nossos males...
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