22 outubro 2007

Periferia: felicidade e otimismo...

A Vênus Platinada, em seu programa de variedades dominical divulgou matéria, onde concluiu-se que os pobres são mais felizes e otimistas que a classe (re)média(da)...
Outro quadro apresenta as periferias de diversas partes do mundo...
Unam-se as parcelas e chegamos a soma:
Na periferia há otimismo e felicidade...
Risível e deplorável as matérias...
Além de inúteis, exceto por mostrar que a pobreza é dolorosa em qualquer lugar do mundo...
Na pobreza, não há nenhum charme, felicidade ou otimismo...
Quem gosta de pobreza é intelectual, segundo Joãosinho Trinta ou ativista de esquerda...
Estes em duas etapas...
Antes da tomada do poder como escada e depois como massa de manobra...
Na pobreza há, sim, sofrimento, desconsolo, fome e conformismo ou impotência pelo absoluto desinteresse do estado que os pobres sejam, efetivamente, menos pobres...
Qual a felicidade que existe na pobreza?
Costumo descrever que o clímax da pobreza é reunir o pessoal no puxadinho ou na laje para degustar, digo devorar um churrasco de carne de segunda, regado a pinga, fazendo barulho, disfarçado de pagode antes de sofrer assistindo, embriagado, o jogo do Mengo ou do Curintia...
O jogo depende se a antena é parabólica ou não...
Isso é felicidade!!!...
Infelizes são os “coitados” que gastaram, no mínimo, R$ 300,00 para ficar 90 minutos ouvindo motores de carro em Interlagos... Ouvindo mesmo, porque ver a passagem dos carros é muito dificil pela velocidade... Os carros passam tão rápidos, que Pelé deveria dar a bandeirada de chegada em 2002, distraiu-se e não viu o Schumi passar...
E olhem que o Negão era rápido... Os corinthianos que o digam...
Os menos remediados e infelizes desembolsaram o triplo para ver o GP de Interlagos, no dia de reportagem...
Podiam, a título de demonstração de igualdade ter ido ao autódromo em trem da EMTU.
Duvidam os VIPs tenham feito tal maluquice...
Os mais pobres são otimistas...
Claro... Isso é óbvio...
Se venderem o almoço, conseguem o jantar...
Se jogarem na Loto Mania, na Mega Sena, na Dupla Sena, na Loto Fácil, na federal, na Paratodos, comprarem o carnê do Baú, aguardarem o caminhão do Faustão, encontrarem a nota de R$ 5,00 premiada do Gugu poderão ficar ricos...
Isso é otimismo!!!
Pessimismo é saber que mais de 50% do dinheiro que o feliz e otimista não poupa e joga nas Loterias vai para o bolso do governo...
Pessimismo é saber que os aeroportos continuam à beira do abismo, que há risco de desabastecimento, que o cimento está sumindo do mercado, que pode haver outro “apagão” elétrico, que a renda média do assalariado diminuiu, que o lucro dos bancos subiu, que o salário dos professores não têm reajuste, que faltam remédios e médicos...
Pessimista é aquele que tem dinheiro para arriscar na Bolsa...
Aliás, este é muito infeliz, também...
Especialmente, porque ao invés de, finalmente, poder abrir uma conta na Caixa, pegar R$ 100,00 de empréstimo consignado e pagar em doze parcelas, pode ganhar alguns milhares de reais em algumas horas...
Invejo os pessimistas e infelizes...
Aliás, como gostaria de ser um deles...
Ser um daqueles pobres e infelizes que moram longe das periferias, tipo Vieira Souto, Alphaville, Higienópolis, Pampulha...
Ai, quanta infelicidade...
Já não me bastava o Corinthians para me dar pessimismo e infelicidade, agora depois de mais de trinta anos de duro trabalho, descubro que se morasse na periferia e gostasse de pagode, churrasco e cerveja eu seria mais feliz...
Só para terminar, deixem-me contar uma lamentavel passagem ocorrida comigo para que possam partilhar e, talvez, consolar-me a tristeza e agrura daquele momento...
Outro dia, ou melhor noite, fui jantar na casa de uma amiga... “Bater um rango” para melhor entendimento dos felizes e otimistas...
Foi servido um prato "tosco", com diversos queijos... Não havia mussarela, nem queijo prato, nem parmesão ralado... Nem linguiça gordurenta, nem maminha mal passada...
Para beber, vinho francês ao invés de cerveja em lata ou guaraná pet em caixa de isopor...
Como acompanhamento sonoro, música clássica... Nem um funk ou pagode...
Foi muita infelicidade...
Vou voltar à terapia...

Um comentário:

Enio Luiz Vedovello disse...

Excelente texto, Pedrão!!!

Também quero ser infeliz e pessimista. Muito pessimista. Depois eu teria dinheiro para pagar a análise, mesmo...