16 novembro 2009

CONSCIÊNCIA NEGRA, AQUI Ó!

Olha o Branquinho livre, gritou o Alemão, um dos crioulos, com uniforme roto igual ao meu...
O Azul lançou e o Breu pediu que cruzasse a bola...
O Branquinho era eu... Tive esse apelido quando apenas mais um e o goleiro não éramos negros e era moda cabelos “black power”.
Preconceito lá no campo só com quem dava canelada na bola...
Pouco depois dessa época, senti pela primeira vez o preconceito racial.
A diretora da escola – concursada e afro-descendente – chamou-me à diretoria, onde uma mãe, também “afro-descendente”, reclamava de modo histérico que “aquilo” tinha que acabar.
“Aquilo” era eu chamar os alunos de “neguinhos” nas aulas de Educação Física.
Ainda bem que “A Grande Familia” ainda não estava no ar, senão coitada da Bebel, mulher do Agostinho...
Sem perder o rebolado, propus uma conciliação...
Chamar o filho dela pelo nome ou por algum apelido familiar.
Tipo assim: “O Givanildo e os Neguinhos” vão ficar me enrolando ou vão fazer o exercício?”
Parece nome de conjunto de pagode, não?
Quem perdeu o rebolado foi ela, ante o riso recolhido pela diretora.
Propedêutica perfunctória à parte, Novembro me cansa...
Passado o “Halloween”, durante vinte dias pratica-se a ideologia do preconceito racial e da valorização virtual do negro.
Temo pelo dia em que descobrirem que são maioria ou tomarem o poder.
Hoje no braziu 50,2% da população são afro-descendentes (PNAD 2008).
Vão trucidar aos não negros?
Será que devo me rebelar e exigir a proteção de meus direitos de minoria branca?
Revolta-me saber que líderes afro-descendentes lutam para expulsar de suas casas muitos cidadãos brasileiros, sem culpas no passado, a título de serem terras quilombolas. Essas mesmas pessoas não movem uma palha em defesa de reservas indígenas, reais proprietários de “terras brazilis” na sua linha de raciocínio.
Vou além...
Talvez, se estivessem na África matassem outros negros em batalhas tribais ou para se tornar tiranos à molde Idi Amin (Uganda), Mobutu (Zaire) ou Mugabe (Zimbábue).
Teorias sobre cotas raciais, defesas de “minorias” raciais interessam apenas aos que ambicionam ou detêm o poder na manipulação de massas em benefício, geralmente, próprio.
À população, de qualquer cor, interessa um mínimo de bem estar e iguais condições no emprego, educação, saúde, transporte, habitação,
Se a questão fosse meramente racial, porque não cotas aos descendentes de imigrantes italianos, onde me incluo, ou japoneses?
Esses povos vieram, de modo quase escravo, substituir a mão de obra dos escravos alforriados pela atrasada Lei Áurea, como ainda chegam hoje bolivianos e peruanos explorados nas confecções de roupa de chineses e coreanos abastados ou ainda os norte-nordestinos nas fazendas de tantos outros coronéis norte-nordestinos detentores do poder a bala ou serras elétricas,
O problema do preconceito no “braziu varemnós” multicor é econômico.
Todos os outros “preconceitos” tratam de “dividir para reinar”.
Negros, brancos, amarelos, cinzas, gays, portadores e até as loiras têm que aprender isso.
A divisão do braziu e de todo o mundo, socialista, neoliberal ou bolivariano, é entre a manutenção da riqueza na mão de poucos e a pobreza crescente.
Olho para o espelho, o saldo bancário e...
Caracas! Estou frito!
Estou no meio do tiroteio, mesmo não morando no Rio.
Não enriqueci apesar de mais de 35 anos de trabalho árduo e na adolescência da terceira idade vejo-me condenado a voltar à pobreza, dos tempos do futebol na várzea, por conta da aposentadoria que míngua dia a dia.
O IBGE, por falta de opção, me inclui na “classe média”, obrigando-me a sustentar com impostos, diretos e no pãozinho, aos ricos, políticos e banqueiros...
O “nordestino apedeuta” que “minha terra paulista escravocrata” acolheu ainda me xinga de “zelite” e, lá do alto de seu palácio, instiga aos pobres que sou culpado da pobreza que nada tem de alvinegra...
Concluo que sou um indefeso membro da minoria branca!
Socorro!
Valei-me meus São Benedito e Santo Antonio de Categeró...
Fazei passar logo o último feriado antes do Natal...
Assim até a quarta-feira de cinzas, quando as esfuziantes loiras e morenas guardarem suas fantasias de destaques das escolas de samba, teremos a paz reinando nas relações dos cidadãos normais.
Depois, dai-me o direito de andar livremente.
Encontrando cidadãos de qualquer cor.
E nos finais de semana possa ir até o campinho relembrar histórias como o cruzamento na cabeça do Breu resultando no gol do empate que comemoramos abraçados, sem o menor preconceito...

Um comentário:

ANDRADE JORGE disse...

Amigo Pedro, circulei em seu blog, fiz parada em varias crônicas, e deliciei-me com seu linguajar irreverente mas certeiro naquilo que se propõe a dizer.Voltarei para novas leituras.Grande abraço.