02 maio 2010

SAUDADES MUSICAIS

Nunca mais reclamarei da minha infância querida, da aurora de minha vida...
Não, dona Aurora! Não é de você que estou falando.
É da aurora da vida da gente.
Dos tempos em que sonhamos com nossos ídolos. Em sermos que nem eles.
Todo mundo sonha, não é mesmo?
Fazer um gol na final da Copa do Mundo.
Cantar no Maracanãzinho ou no Teatro Paramount num apoteótico encerramento de um Festival de Música?
Estrelar uma foto-novela.
Quem estendeu esta é do tempo da aurora querida.
Eu traduzo... Estrelar a novela das oito, mesmo que comece em outro horário.
Pronto!
Agora, os mais jovens entenderam.
O que eu acho é que os mais jovens nunca me entenderão e nem eu a eles e porque eles acham a música que gosto de ouvir tão chata e a que eles gostam de ouvir é tão insuportável que me recuso a escutar.
Aliás, nem agüento!
Alguém tem o telefone da Prefeitura para eu reclamar do barulho?
Ou reclamo no CEAGESP?
Afinal é mulher melancia, framboesa, moranguinho, abacaxi...
Epa! Foi mal... Quis dizer laranja!
Piorou? Me meti em política.
Reset!
Que saudade de minha infância querida, da aurora de minha vida.
Quando a Garota de Ipanema passava, o Vinicius e o Tom paravam de ver se tinha jangada no mar, que isso é coisa do Edu e papo de Caymmi.
Que Sabiá, que nada!... Esse som é a Banda que está passando em Disparada numa Travessia!
A gente decorava as letras.
Verdadeiros poemas.
Não eram esses refrãozinhos tipo “créu, eu quero te devorar, meu Abacatinho, com um tapinha no pocotozinho”.
Nem dói.
Não dói?
Como dói!
Além do volume, dói mais ver a aculturação (ou seria desaculturação?) musical que ataca a população, que nada mais é que conseqüência de todo um processo de dominação política.
Ah! Como eu era feliz! E ainda reclamava se minha música preferida não chegava à fase final.
De raiva, desligava o rádio e ia ler um livro.
Mas, isso é um outro capítulo...

Um comentário:

Anônimo disse...

Será que vc. lia foto-novela???!!!!
Abraço.