Observava, meticulosamente¸ o céu nas
madrugadas, como esperasse a chegada de alguma Nave Espacial. Invariavelmente
acompanhado de sua fiel e inseparável Luneta, cadelinha SRD (Sem Raça
Definida), de focinho e orelhas estranhas, que gostava de uivar para a Lua.
Prestava a máxima atenção à presença
de qualquer rastro de luz no espaço. Via Caudas de Cometas, Estrelas Cadentes
entre diversos OVNIs (Objeto Voador Não Identificado). Assim são chamadas, de
modo genérico, as milhares de Naves Espaciais que transitam diuturnamente pelas
galáxias.
Em passado não muito distante, era
corriqueiro o aparecimento dos OVNIS na atmosfera terrestre. Visitavam o
Planeta Terra com finalidade de estudos e pesquisas de cientistas de seus
planetas ou – acreditem – por mero passeio.
Reduziram, significativamente, suas
visitas ao Sistema Solar e quando o fazem, é voz corrente pelo espaço infinito
evitam pousar na Terra. Mesmo em caso de (raríssimas) emergências, preferem
descer em Marte ou Vênus.
Querem manter certo distanciamento com
os “perigosos” e primitivos terráqueos e suas doenças bacterianas, sua mania de
não dividirem o que tem e acharem-se os melhores (ou únicos) seres vivos
inteligentes das Galáxias.
Diz-se, também, não gostarem das
alterações climáticas e da violência insana entre seres iguais.
Os alienígenas temem por suas Naves.
Que sejam alvo dessa violência. Inclusive, fontes seguras informam o caso
recente de uma nave vinda da Galáxia do Olho Negro quase atingida por um míssil
de “longo alcance” de um país que confundiu a passagem da Nave Espacial com uma
Bomba.
Diversos pilotos de Naves Espaciais
referem a necessidade de muita atenção, frente a obrigatoriedade de constantes
e abruptos desvios de rumo, para não se chocarem-se com fragmentos e restos de
rudimentares experimentos nucleares deixados no espaço. Para eles é de difícil
compreensão o desperdício pela ausência de qualquer projeto de reciclagem de
lixo espacial da parte do Humanos.
Parece que os alienígenas, ainda,
não digeriram o porquê da utilização de seus pares como cobaias para
experiências humanas no Caso Roswell. “Humanos abduzidos sempre foram muito bem
tratados”, manifestou-se um representante alienígena no Simpósio
Interplanetário realizado na Constelação de Andrômeda.
Madrugada já ultrapassara seu clímax.
Quase não mais se via o brilho da Lua Cheia, ofuscada pelos primeiros clarões
do amanhecer.
Repentino risco diferente rasga a
atmosfera.
Olhos titubeantes de sono
arregalam-se.
Seria a esperada Nave Espacial?
Corre ao Rádio buscando noticiar aos
outros observadores de plantão. Atenção! Atenção! Aqui PL47. Provável OVNI
próximo a -21S/-45W.
O rastro do OVNI desapareceu,
repentino como surgira.
Telescópios buscam o horizonte.
Sumira... A impressão (ou os
efeitos da esperança de PL47) era que a Nave pousara. Não muito longe.
Ouvidos à espreita, no aguardo de
algum sinal.
Chamando PL47... Chamando PL47...
Atenção, PL47! Positivo. Nave identificada fez sobrevoo em -21ºS/-45ºW com
pouso previsto para 21º33'05"S/-45º25'49"W.
Luneta, entre latidos desconfiados
e uivos, fareja o céu e salta na caçamba da pick-up.
21º33'05"S/-45º25'49"W. ou
Vargem Mirim ficava a hora/hora e meia terrestre de distância pelas estradas
esburacadas.
PL47 estava saudoso e acelerou
fundo. Luneta agachou-se na caçamba. Lamentou que na Terra o tempo fosse tão
desperdiçado. Um Nave Espacial faria semelhante percurso em milionésimos de
segundo.
Lembrou-se de uma de suas
recentes abduções, quando ficou por diversos sóis viajando pela Via Láctea e
parcos três ou cinco minutos na velocidade do tempo terrestre. Sequer sentiram
sua ausência.
Hoje era diferente.
Estava prestes a voltar
definitivamente para Centaurus. A missão dele na Via Láctea chegara ao fim. O
alienígena que o substituiria o aguardava e, numa fração de tempo,
incorporou-se em sua vestimenta de terráqueo. Embarcou no OVNI, assumindo seu
comando.
Silenciosamente, a Nave decolou e
rumando ao horizonte, deixou um rastro de luz. Terráqueos, observadores do céu,
julgaram fosse a passagem de um cometa ou uma estrela cadente.
Luneta rosnou um pouco,
desconfiada. Bastou o olhar de seu novo “dono” para acalmá-la. Saltou para o
banco da pick-up, que partiu vagarosamente, no labirinto de pedras e buracos.
Atenção... Atenção... Aqui PL47.
Troca de turno efetuada com sucesso. Confirmar rota.
Positivo, PL47! Seja bem-vindo.
O amanhecer seguiu rotineiro. Os
moradores de Vargem Mirim não estanhavam mais as chegadas e partidas de OVNIS
na zona rural do pequeno vilarejo. Holofotes da imprensa eram coisas do
passado. Hoje, nem um parágrafo no jornal ou chamada na TV.
Em Vargem Mirim, já nem se sabe mais quem
era terráqueo, quem era alienígena. O convívio pacato mostra que é possível a
coexistência pacífica entre “seres” tão diferentes.
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