08 maio 2018

PININHA E O CACHORRO NO CHAFARIZ

 

Pina! Entrando escondida, hein! Por que chegou tão atrasada?
Depois eu conto, Gegê.
Pina! Você está encharcada. Vai molhar todo o chão da sala. Entre pela porta da cozinha.
Era o que eu ia fazer quando a senhora me chamou.
Ai! Pina. Tire só o sapato e me conta. Você caiu numa poça dágua?
Quase isso, Gegê. Eu salvei um cachorro. E quase fui presa.
Como assim? Você faz uma bondade e é quase presa?
Eu também não entendo essas coisas. Mas, eu sou a Pina. Só faço confusão.
Desembucha, Pina!
Eu desci do ônibus lá na praça que tem o chafariz. Sabe aonde é?
Claro!
Eu vi um monte de gente ao redor da cerquinha do chafariz. A senhora sabe como eu sou. Fui ver o que acontecia. Tinha um cachorrinho dentro do chafariz.
Pina, como um cachorro foi parar dentro do chafariz?
Isso eu não sei. Ele estava lá dentro. Gania pedindo socorro. Acho que estava  se afogando.
Pina! Afogar-se no chafariz? Tem trinta centímetros de profundidade.
Era um desses cachorrinhos de madame. Que dava para esconder na bolsa quando era proibido entrar com cachorro em tudo que é lugar. Uma vizinha lá na vila carregava uma sacola e entrava com o cachorro no ônibus.
Entrava?
Entrava... Agora não deixam mais ela entrar com a bolsa.
Por que?
Deu uma confusão. Um dia, no meio do caminho entrou uma dona com uma sacola grande.
Já sei. Outro cachorro.
Antes fosse. A dona estava com um gato angorá escondido. Voou pelo pra tudo que era lado.
Ai... ai... ai... ai... ai... Pina... Conta do cachorrinho no chafariz.
Eu fiquei olhando o desespero do cãozinho. Ninguém socorria.
Como assim?
A senhora lembra que na praça tem uma placa proibindo pisar na grama.
Mas, era uma emergência.
Explica isso pros Guardas Metropolitanos que estavam lá.
Por que eles não salvaram o cachorrinho?
E eu sei lá. Ninguém passava a cerquinha. Então tomei a decisão. Vou salvar o cachorrinho.
Parabéns, Pina! Você é uma pessoa do bem.
Quase. Nem acabei de passar a cerquinha, os Guardas correram em minha direção, gritando mais que maritaca assustada. Pulei no chafariz. Foi por isso que molhei os pés.
O importante é que você salvou o cachorrinho?
Não salvei. Os dois Guardas me agarraram e levaram para fora do chafariz.
E o cachorrinho?
Não sei. Alguém salvou o bichinho, enquanto eles me tiravam da grama.
Pina! Que confusão pra nada... Acho que você foi boi de piranha.
Epa! Epa! Epa! Olha o respeito, Gegê. Sou mulher de respeito. Piranha? Olhe  que eu digo quem é piranha...
Pina! Boi de piranha é quando a boiada vai atravessar um rio e...
Gegê... Depois eu que não entendo. Era um cachorro no chafariz, não uma boiada no rio.
Ai... ai... ai... ai... ai... Deixe pra lá, Pina! Vá secar esses pés.
Gegê! Não vai pedir desculpa?
De que?
Quem é piranha?
Ai... ai... ai... ai... ai... A dona do cachorrinho... Ficamos bem assim?
Ta desculpada... Gegê! Posso pegar sua sandália de dedo? A minha quebrou a tira.
Pode, Pina! Pode...

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Inspirado em fatos (su)rreais de Brasília.

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