Vovô, você nem sabe a história que me contaram...
O que é desta vez, Noquinho?
Nada! Se eu contar o senhor vai dizer que estou faltando
com a verdade outra vez.
Outra mentira, você que dizer... Cuidado aonde você mete
o nariz... Mas conte! Conte!
O senhor acredita em sorte?
Não muito! Acredito em trabalho e honestidade.
Como o senhor explica esta, então?
Se não contar, como poderei explicar... Desembuche,
menino!
Então, vovô... Disseram que essa história se passou num
lugar chamado de estacionamento. O que é estacionamento?
Deve ser um lugar aonde se guardam charretes.
Deve ser um lugar aonde se guardam charretes.
Sabe, vovô? Diziam que era preciso trocar o cadeado do
portão do lugar aonde se guardavam as charretes.
Sim... sim... Conte rápido, porque preciso terminar meu
trabalho.
Então, vovô... Um ladrão muito esperto soube que iriam
trocar o cadeado... Colocar um mais seguro.
Sempre é bom segurança nestes tempos. Nunca se sabe quem
está do nosso lado. Pode ser alguém mentiroso.
Não fale assim, vovô! O senhor me ofende.
Continue, Noquinho.
Ele roubou as charretes... Quebrou o cadeado com uma
imensa marreta e entrou no estacionamento.
E ninguém ouviu o barulho? Deve ter feito barulho ou não?
Não sei, vovô... Essa parte eu não perguntei... Nem
pensei nisso... O senhor sabe que eu acredito em tudo que me dizem.
Não devia... Você é um exemplo de como alguém pode – como
é que você disse mesmo?
Faltar com a verdade.
Isso... Mas, eu acho que alguém ouviria o barulho. Não
tinha nenhum cavalariço, um vassalo cuidando das charretes?
Isso disseram... Ele estava de folga nesse dia.
Estou começando a acreditar que esse ladrão era muito bem
informado.
O senhor não acredita mesmo em sorte, hein, vovô. Ele
roubou um monte de coisas das bolsas onde as pessoas guardam as coisas que
carregam na viagem.
E ele não fez nenhum barulho para quebrar os cadeados das
bolsas onde as pessoas guardam as coisas que levam nas viagens? Ah! Noquinho...
Verdade, vovô! E ele não roubou só uma charrete, não.
Roubou mais.
Quantas?
Todos os dedos da minha mão.
Cinco?
Seis...
Seis...
Está bem... Mas deve ter demorado muito para ele fazer
isso? Uma noite inteira e ninguém viu o portão aberto a noite inteira?
Não, vovô! Ele tinha uma chave falsa que abria os
cadeados.
Epa, Noquinho! Se ele tinha uma chave falsa que abria os
cadeados, por que ele usou uma marreta para abrir o portão da rua?
Ah, vovô! O senhor pergunta cada coisa. Isso eu não sei.
Noquinho, Noquinho!
Ah! Vovô... O senhor não está acreditando em mim? Não
conto mais histórias para você.
Noquinho, pega aquele formão para mim, que eu não tenho
essa sorte. Tenho é muito trabalho... Ganhar dinheiro honestamente...
Posso assistir à TV? Está na hora do CSI...
(Qualquer semelhança com fatos já conhecidos pelo leitor
é pura coincidência)