19 dezembro 2009

ÁGUAS POR TODOS OS LADOS

Em “À Independência, Entre Rios”, conto alegoria que dá titulo a um de meus livros, narro como os jesuítas queriam afastar a possibilidade de invasão de suas terras pelo pessoal da Zona Leste.
Ao ler as últimas notícias sobre as enchentes que por lá ocorrem, tenho que penitenciar-me ao cilício, por haver me esquecido de algo.
Não era apenas a Radial Leste que retardaria a chegada desse povo às terras entrerrienses.
Essa era a dificultação por terra.
Os jesuítas cuidaram também dos riscos de invasão pelas águas.
Não havia na Ladeira Porto Geral ancoradouro suficiente para os barcos que se fazem necessários para transportar a população do Jardim Pantanal, onde as águas não se escoam de suas casas há mais de uma semana.
O transporte da população se faz por “jangadeiros”.
Talvez fosse necessário um transatlântico, desses que fazem turismo pelo litoral do “braziu varemnós”, nos períodos de verão transportando “gente de bem”...
Que tal um “troca-troca”?
Aquele povo “naufragado” que treme de medo de um relâmpago avisando que podem perder tudo novamente faz um tour num navio e o pessoal “abastado” que quer ver água por todos os lados, durante uns dias, em dez vezes sem juros, fica de graça e sem prazo determinado à mercê das doenças tropicais ou transmissíveis por ratos, nos mares da Zona Leste.
Duas populações de dois mundos tão próximos e tão distantes que são geridas pelos mesmos governantes.
Que passarão seu Natal mais próximos do Jardim Pantanal ou do Transatlântico?

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