O cheiro ainda era imperceptível.
Menos para os urubus que volteavam cada vez mais baixos...
Pousam nas pedras, aumentando em quantidade atemorizante, como um filme de Hitchcock.
Devagar, seu prato vem rolando, imenso, nas ondas até parar na areia...
O casal se aproxima e não deixa seu cão cheirar, puxando-o enquanto late...
Um policial para sua moto no calçadão e, cuidando para não molhar o coturno, confere não fosse um ser humano... Burocraticamente, se vai dando lugar ao vendedor de cangas e bugigangas...
Um garotinho tenta acordar o pai que arde na areia...
Ciclistas olham de soslaio...
Senhoras que caminhavam, em crise de ecologismo, protestam...
Pescadores lamentam o golfinho que deve ter morrido enganchado numa rede... Nem pensar em cortá-lo e vender...
A praia segue sua pacificidade de um dia útil...
Sem frango, nem farofa...
Os urubus, com seu andar manco, pé ante pé, aproximam-se.
O faro atinado misturando-se ao olhar brilhante pela refeição que estava logo ali.
Apodrecendo.
Ao longe, em rude contraste, via-se um e outro atobá mergulhando em busca de alimento fresco.
Uma espécie, ágil e admirada, rouba vida para se alimentar e sobreviver...
Outra, desprezada, aguarda, placidamente, o fim...
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