Engana-se quem pensa que a Marquesa de Santos foi
“apenas” uma mulher promíscua e amante de Dom Pedro I. Domitila de Castro Canto
e Melo foi uma pessoas poderosa e influente no início do Brazil Império. Sua
atuação política estendeu-se muito além dos sete anos do romance dela com Dom
Pedro I.
Domitila foi das raras
aristocratas brasileiras que ousou contrariar o estereótipo da mulher do lar no
Primeiro Reinado, com suas atitudes fortes e decisões marcantes que chocaram o
Brazil.
A jovem aristocrata paulistana entrou para a história
ao tornar-se a mais famosa e influente amante de Dom
Pedro I e seria símbolo de um fenômeno
regional desses tempos. “A força da mulher paulista”.
Uma breve explicação para essa “força”. A maioria dos homens de São Paulo
eram bandeirantes. Saiam para o sertão caçar índio e pedras preciosas, deixando
mulheres e filhos na cidade. As mulheres paulistas eram dominantes e chefes de
família, diferentemente de outros lugares do Brazil. Nesse contexto, tornou-se
possível reparar na força que as mulheres da família tinham dentro do
círculo social em que viviam. Por isso, as mulheres de São Paulo ganharam fama de
bravas.
“Titilia” nasceu em São Paulo, no dia 27 de
dezembro de 1797,
filha de João de Castro Canto e Melo, militar açoriano, coronel reformado e
inspetor das repartições de estradas da cidade de São Paulo, e de Escolástica
Bonifácia de Oliveira Toledo Ribas. Descendia da nobreza lusitana da parte do
pai e das primeiras famílias paulistas “quatrocentonas” por parte da mãe.
Domitila e seus irmãos - João, José, Francisco, Maria
Benedita, Ana Cândida, que chegaram a idade adulta e Fortunata, falecida na
infância - tiveram uma educação tradicional, mas
não se sabe muitos detalhes dessa fase de sua vida.
Talvez o mais emblemático
personagem da história do Brazil seja Pedro de Alcântara
Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José
Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, conhecido como Dom Pedro I. A vida do imperador sempre foi alvo de estudos,
indo além do grito da independência, em especial suas atividades amorosas.
Dom Pedro protagonizou um dos
episódios mais polêmicos do início do Brazil Império: O relacionamento
extraconjugal com Domitila de Castro Canto e Melo, a Marquesa de Santos,
Quando casou-se com Leopoldina,
tinha 19 anos e um vasto histórico de vagabundagens amorosas, todas amplamente
comentadas pela população. O assédio que fazia às mulheres era assunto
corrente. Andava pelas ruas à cata de presas. Não poucas vezes, apeara do
cavalo para levantar a cortina de uma cadeirinha que passava carregada no ombro
de escravos. Ele não conhecia limites nem diante da família ou do marido da
mulher desejada.
Os casos extraconjugais de Pedro
aconteciam um após o outro, assim como os filhos bastardos. E, apesar disso,
ele não dava folga a Leopoldina – que, sempre grávida (teve 9 gestações em 9
anos de casamento), vivia recolhida e em repouso.
Sobre seus modos, um funcionário
que acompanhou a austríaca ao Brazil, o barão de Eschwege, anotou: “Por falar
no príncipe herdeiro, posto que não seja destituído de inteligência natural, é
falho de educação formal. Foi criado entre cavalos, e a princesa cedo ou tarde
perceberá que ele não é capaz de coexistir em harmonia”.
No dia do nascimento de seu
filho, que seria o futuro Imperador D. Pedro II, saiu, às pressas da casa da
amante, Domitila, onde acompanhava a moça que sentia suas primeiras dores da
contração. Cinco dias após, apresentou o nenê à Corte e voltou à casa da
favorita para conhecer o outro rebento, que acabara de nascer e recebeu o nome
de Pedro de Alcântara Brasileiro.
Numa viagem à Bahia para sufocar
um princípio de rebelião, por exemplo, o imperador embarcou com as duas. Seu
caso era tão notório, que o embarque virou piada: Levava a mulher para
disfarçar a amante.
Leopoldina era uma moça
gorducha de 20 anos, mãos rechonchudas, nem feia nem bonita. Todavia, na
qualidade de princesa de uma das maiores casas reais da Europa, era importante
peça no tabuleiro de alianças entre as potências. A herdeira do império Austríaco fora criada com a educação
mais formal que uma família real europeia era capaz de fornecer.
Ao final da tarde do dia 5 de
novembro de 1817, a corte do Rio de Janeiro assistiu a uma festa. Foram cerca
de duas horas de foguetório,
com a multidões se acotovelando para receber e saudar a arquiduquesa Leopoldina Carolina Josefa de Habsburgo-Lorena ou, simplificando, “Maria Leopoldina da Áustria”,
filha do soberano do Sacro-Império Romano-Germânico e imperador da
Áustria Francisco I. “Ela vinha consolidar seu casamento com o príncipe
herdeiro Pedro, feito por procuração em sua terra natal”. (Priori, in Carne e
Sangue.
Aquele casamento fazia parte do
jogo de poder da dinastia Habsburgo da Áustria. A família esperava que ela se
tornasse rainha de Portugal. Por meio de casamentos, queriam ter tentáculos em
todas as famílias reais europeias, e influenciar a política mundial
realizava-se o sonho de dom João VI, rei de Portugal e do Brazil: unir seu
filho à Casa de Habsburgo, na luta contra a França revolucionária e
napoleônica.
À época da chegada da Leopoldina,
sua futura esposa, andava enrabichado com uma dançarina francesa e a
engravidara. A corte inquietou-se, pois o contrato de casamento já estava
assinado. O casamento, portanto, não começou bem – e, com o tempo, só piorou.
Leopoldina casou-se com D. Pedro
imbuída de seu papel real. A felicidade estava no cumprimento estrito de suas
obrigações, fazendo tudo o que seu esposo desejasse. No fundo, era embalada
pelo que chamavam de modernismo: o sentimento romântico que leva seus adeptos a
acreditar que o coração sempre vence. Esse foi seu erro.
Em um relacionamento marcado por
traições e humilhações, Pedro I e a Imperatriz Leopoldina tiveram um casamento,
conhecido publicamente pelo descaso do marido com a fiel companheira. O
imperador chegou a ostentar cinco amantes simultâneas, enquanto a esposa sofria
com as dores de complicadas gestações.
A história costuma considerar
Leopoldina fundamental para a Independência do Brazil. Não foi bem assim. Ela
era aferrada ao Antigo Regime e apavorada diante de uma revolução sangrenta que
lhe cortasse a cabeça. Não escondia esse temor nas cartas ao pai. Numa delas,
Leopoldina chama a população brasileira de “maldita canalha”. Somente começou a
mudar seu comportamento no fim de 1821, quando parecia inevitável a separação
da colônia. Ela não quis arriscar a herança, nem a coroa dos filhos voltando
para a Europa.
A situação política forçaram-na a
se posicionar em favor da Independência. Embora, manifestasse ser totalmente
favorável à Independência, não deixava de ter certo desprezo arrogante pelo
país, dizendo que governava a “Santa Ignorância”.
Leopoldina temia uma guerra civil
e reage em função disso. Em uma de suas cartas ao marido, escreve: “O Brazil
será em vossas mãos um grande país, o Brazil vos quer para seu monarca”
(P.Rezzutti in Pedro I).
No entanto, enquanto dom Pedro
declarava o Brazil independente, Leopoldina escreveu para o pai assinando “sua
filha e vassala mais fiel” e acusou o marido de aderir às novidades e
lamentando o futuro duvidoso. Em outra correspondências, compara o marido a uma
marionete, que ela movia na direção desejada. No caso, rumo ao rompimento com
Portugal e a independência do Brazil. Mais não se sabe de cartas em que ela se
mostrasse uma estrategista ou executiva do movimento independentista.
Antes de tornar-se amante de Dom
Pedro I, Domitila viveu um conturbado casamento.
Titília aos 15 anos, casou-se com
o alferes Felício Pinto Coelho de Mendonça, do Segundo Esquadrão do Corpo dos
Dragões da Cidade de Vila Rica na época com 22 anos de idade. Ele vinha de
proeminente família mineira, dona de lavras de ouro. Foram morar em Vila Rica,
hoje Ouro Preto O casamento durou de 1813 a 1819 e gerou três filhos:
Francisca, Felício e João, este falecido criança.
Ao contrário da vida calma,
prometida durante o noivado, seu casamento foi um desastre completo. Felício
revelou-se perverso com ela, violentando-a e espancando-a constantemente. Alcoólatra
e viciado em
jogos, quando perdia nos jogos de azar,
descontava sua frustração batendo e maltratando-a.
A moral da época exigia que as
mulheres sofressem resignadas as agruras do convívio. O homem era dono e senhor
de suas mulheres. Sair da casa, mesmo quando a mulher sofria abusos do homem era considerado crime de
“abandono de lar”, prática condenada moralmente pela sociedade. Levar os filhos
da casa do marido com os filhos era impensável. Uma mulher abandonar o
marido — mesmo que ficasse com os filhos e fosse vítima violência comprovada —
podia arruinar a imagem dos familiares.
Entretanto, em 1816, após
Domitila sofrer outra onda de maus tratos do marido. Ao ver a filha cansada de
apanhar, a família Castro, influente na política paulista, bateu de frente com
o costume da época, ficou ao lado da filha e recebeu-a com as duas crianças.
A atitude não representou o fim
do inferno para Domitila. Em 1818, Felício conseguiu transferir-se para São
Paulo e o casal tentou reconciliar-se, voltando a viver juntos. Continuaram as
bebedeiras, jogatinas e maus tratos. Para completar, ao tentar vender as terras
que o casal havia herdado com a morte de dona Escolástica, Felício falsificou a
assinatura de Domitila no contrato.
Chegou a tentar assassiná-la, no
dia 6 de março de 1819. Felício armou uma emboscada próximo à bica de Santa
Luzia, em São Paulo e esfaqueou Domitila, atingindo-a na coxa e na barriga.
Domitila ficou entre a vida e a morte durante dois meses. Felício justificou
seu crime como “legítima defesa da honra”, alegando, sem apresentar provas, que
a esposa lhe era infiel. Segundo os autos do processo de divórcio, o pivô da
traição era o coronel Francisco de Assis Loreno. Por mais que a suspeita de
adultério tenha sido levantada por aqueles que estavam contra a esposa, nada se
provou e Felício foi preso e levado para o Rio de Janeiro.
Retornando novamente à casa
paterna, Domitila teve que lutar pela guarda dos filhos, pois o pai de Felício
queria que fossem enviados para Minas para serem educados pelos avós. A
separação não foi causa fácil de ser vencida por Domitila, que teve de aguardar
o desfecho do processo de seu sogro pela guarda das crianças.
A tentativa de assassinato era
motivo bastante para o divórcio, que só se legitimou cinco anos depois, graças à
intervenção do Imperador, que acelerou os trâmites para concluir o divórcio.
Domitila de Castro Canto e Melo
começou a entrar na história do Brazil em agosto de 1822, por ocasião de uma
viagem do Príncipe Regente D. Pedro a São Paulo. Sairia de um
relacionamento abusivo para uma aventura marcada na História.
O Príncipe-Regente viera a São
Paulo, para tentar apaziguar a discórdia na junta que governava a província,
desde que rompera com Portugal ao anunciar que ficaria no Brazil - 09.Janeiro de 1822, dia do Fico - e tropas
portuguesas revoltaram-se em algumas províncias.
Durante as negociações, encontrou
tempo para envolver-se com uma mulher encantadora. Descrita como uma mulher
alta para os padrões do século XIX, pele clara e expressivos olhos escuros Domitila,
aos 25 anos, era sedutora, inteligente, independente como as mulheres não
costumavam ser à época, recebeu as atenções do Príncipe.
Chegam a dizer que Domitila
esteve presente na cena do grito da independência. Mesmo que não seja verdade,
Domitila foi a mulher mais famosa do reino nos primeiros anos do Império.
Francisco de Castro Canto e
Melo, irmão de Domitila, ajudante de ordens de D. Pedro, além de ter feito
parte da comitiva que esteve na Independência, foi quem colaborou para o primeiro
encontro acontecer. A intenção inicial era de que D. Pedro ajudasse a
família nos processos do divórcio e guarda dos filhos de Domitila. O Imperador ao
saber da história de Domitila, interveio no processo e a causa rapidamente teve
um fim favorável a Domitila, que obteve o divórcio e a guarda dos filhos.
Mais que isso. Nascia o romance
entre os dois.
D. Pedro, aventureiro e
mulherengo, iniciava um romance “proibido”, cercado de polêmicas do início ao
fim. Registros dos
primeiros encontros foram feitos pelo marido de uma prima de
Domitila, onde narra flertes de D. Pedro e suas tentativas de impressioná-la.
Pedro e Domitila viveriam uma
louca paixão. O “affaire” ultrapassaria as paredes das alcovas e causaria
tumultos e discórdias na vida familiar do príncipe e na política do Brazil,
arruinando a imagem do Imperador D. Pedro I, dentro e fora do país.
Os frequentes encontros não
apenas renderam o título de Marquesa de Santos, mas também diversas ocasiões de
intimidade exposta em cartas e registros mal encobertos.
Acredita-se que a paixão
desenfreada de Dom Pedro I por Domitila, a paulista que o encantou desde o primeiro
encontro, tenha se originado pela personalidade da amante, dona de um espírito
livre, muito diferente do temperamento conservador da Imperatriz Maria
Leopoldina.
Domitila e família mudaram-se
para a corte em 1823, onde viveriam sob a proteção de D. Pedro, coroado
imperador em dezembro de 1822. Seu romance com D. Pedro I rendeu-lhe títulos
e riquezas.
Domitila apesar de vir de
família influente e bem posicionada, para os padrões nacionais, passou longe de
uma educação formal. Domitila era semianalfabeta, como quase a totalidade dos
brasileiros daquele tempo.
No começo do romance, Dom Pedro
tomou alguns cuidados para deixar o romance o mais sigiloso possível. Mas,
depois da morte de seu pai, Dom João VI, ele reconheceu uma filha bastarda que
teve com Domitila e história se espalhou. Além de ter que lidar com os
comentários da Corte, Leopoldina foi obrigada pelo marido a ter que conviver
com Domitila. O Imperador Francisco I da Áustria, sogro de D. Pedro, ao saber de
Domitila, acusou-o: “Que homem miserável é o meu genro”.
Dom Pedro I foi elevando o padrão social de sua
amante. Nomeou Domitila
como Dama do Paço. O cargo era dado a damas da sociedade, que tinham acesso ao
palácio e serviam a família real, mas não como uma empregada. Assim, Domitila
tinha acesso ao quarto da Imperatriz e de Dom Pedro também. Nomeou-a
“Dama do Paço”. Em 4 de abril de 1825, após ser afrontada pelas damas de
companhia da imperatriz, ela foi nomeada Dama Camarista da imperatriz, posto acima das demais
damas do paço. Para que Domitila pudesse estar mais perto, nomeou-a primeira-dama
de companhia da imperatriz, algo encarado como uma grande
humilhação por d. Leopoldina, Domitila recebia para dar opiniões no governo e
era bastante influente.
Domitila recebia todas as
atenções, presentes e honrarias do imperador e Leopoldina ia sendo ofuscada e
humilhada em público. Quando Domitila foi barrada em eventos sociais -como uma
missa e uma peça de teatro - Dom Pedro puniu os responsáveis e fechou o teatro.
Em muitas ocasiões oficiais,
ocupou o lugar que deveria estar reservado a Maria Leopoldina. No dia 12 de
outubro de 1825, aniversário do imperador, Domitila tornou-se oficialmente
“Viscondessa de Santos”, pelos serviços prestados à imperatriz, e em 12 de
outubro de 1826 foi elevada à “Marquesa de Santos”, ambos com honras de
grandeza. Domitila nunca
teve qualquer relação ou vínculo com a cidade litorânea de Santos. O motivo
para ela ter recebido esse título pela cidade demonstra um lado vingativo e afrontoso
de Dom Pedro. Quem nascera de Santos eram os irmãos Andrada e Dom Pedro estava
brigado. E sabedor que os Andrada odiavam Domitila, fez isso para
provocá-los.
O imperador cobria sua amante de
presentes e mimos. Em abril de 1826 comprou para ela um sobrado localizado
próximo à Quinta da Boa Vista.
Não foi só a marquesa quem
recebeu títulos da nobreza. Sua família também se beneficiou de sua influência
com o imperador, que distribuiu titulações para toda a família da amante. Parentes e amigos de Domitila
ganharam altos cargos na corte do Rio de Janeiro e muita gente a procurava para
pedir favores ou ajuda na hora de influenciar o imperador. Seu pai foi
presenteado com um título nobiliárquico - Visconde de Castro. Presenteou a
família com uma mansão no Rio de Janeiro, conhecida como Casa Amarela — onde
hoje está instalado o Museu do Primeiro Reinado, na cidade. Dava grandes somas
de dinheiro para suas filhas com a amante, além de títulos e cargos importantes
para familiares da marquesa de Santos. Quando o pai de Domitila faleceu, em
1826, o imperador arcou com todas as despesas do funeral.
Leopoldina amava Pedro, que amava
Domitila, que amava ser sua favorita. Assim era o triângulo amoroso formado
pelo imperador Pedro I, a imperatriz Leopoldina e a Marquesa.
Quando o caso amoroso de d. Pedro
e Domitila começou, Pedro era casado há quatro anos com d. Leopoldina e tinha
quatro filhos com ela. O enlace extraconjugal foi motivo
de desgosto para
Leopoldina pelo resto de sua vida. A imperatriz,
de acordo com registros deixados, era apaixonada pelo imperador e foi colocada
em segundo plano durante o envolvimento dele com Domitila.
A imperatriz acostumara-se com
os casos extraconjugais de Dom Pedro e não deu a devida importância para
Domitila. Considerou fosse apenas mais uma. Ao não se impor, permitiu que
Domitila ganhasse espaço.
Colecionador de amantes, o
romance com marquesa de Santos foi o que mais tocou o imperador. Em determinado
momento ele deixou de ser clandestino e foi exposto diante de todos, inclusive
de Maria Leopoldina, sua esposa.
Leopoldina sentia ciúmes. Reações
destemperadas seriam normais para qualquer mulher moderna em sua situação, mas
não é o que se esperava de uma rainha. A infidelidade era hábito entre nobres
casados por conveniência. Entretanto, seus escritos passam a impressão que
tivesse mais ciúme da influência política da Marquesa que das ofensas
sentimentais.
O imperador, incontrolável
garanhão, vivenciava outro segundo triângulo amoroso, num episódio que gerou grande
confusão. Honrando a fama de mulherengo, o imperador casado com Leopoldina e
mantendo a Marquesa de Santos como amante oficial, manteve relacionamento
amoroso com Maria Benedita de Canto e Melo, a baronesa de Sorocaba e irmã de
Titília.
Conheciam-se desde os tempos das
primeiras visitas do imperador à casa dos “Cantos e Melos”, quando ainda era
príncipe regente.
Se o relacionamento com a
marquesa era rumoroso, a relação com a baronesa era secreta e tratada com
descrição, pois ela era casada. Os encontros nada casuais aconteciam sempre que
dom Pedro saía em retiro com destino ao Outeiro da Glória. Os momentos de
descanso eram usados como desculpa para uma fugidinha rumo ao braços da
baronesa de Sorocaba, que residia num casarão próximo à igreja.
A situação complicou-se quando a
baronesa e a Marquesa engravidaram na mesma época.
O triângulo amoroso deixou a
marquesa enfurecida. Ela chegou a tentar atacar sua irmã algumas vezes. O ápice
do conturbado triângulo aconteceu em 1827, quando a baronesa foi atacada a
tiros, ao passar de carruagem pela Ladeira da Glória, no Rio de Janeiro. Maria
Benedita saiu ilesa, mas a notícia logo se espalhou por toda a corte e foi
divulgado que a mandante do atentado seria Domitila.
Demonão! Era assim que o imperador
Dom Pedro I assinava as cartas endereçadas a sua amante, Domitila de Castro, a
marquesa de Santos, a quem chamava Titília.
Desde os primeiros encontros,
quando ficavam distantes ou separados, D. Pedro I e sua amante trocavam cartas.
Entre 1823 e 1828. Demonão assinava também “Fogo Foguinho”. Foram confirmadas a existência de 143
cartas, muitas guardadas nos arquivos do Museu Imperial, em Petrópolis.
Cartas e bilhetes repletos de
palavras e desenhos picantes, apaixonados e escandalosos. Além das demonstrações
de libido e ciúmes, há trechos de descontração hilariantes e reclamações
mundanas que trazem uma perspectiva interessante de um dos casos amorosos mais
famosos da História brasileira. As correspondências também estão recheadas de
arroubos imperiais de paixão e até detalhes sobre a saúde do pênis do
imperador.
Não é de hoje que as indiscrições
do imperador, a força da marquesa e a triste condição da paciente imperatriz,
pudica e diminuída publicamente por conta da infidelidade espalhafatosa do
marido, são assuntos de nobres e plebeus. Este foi, sem dúvida, o triângulo
amoroso mais conhecido da história dos afetos brasileiros. Leopoldina amava
Pedro, que amava Domitila, que amava ser sua favorita.
Algumas cartas, contudo, revelam
o desejo de poder da graciosa e despudorada Titília, a mulher mais influente do
império enquanto durou o romance. A marquesa não media palavras em suas
respostas. Possuía uma postura vigorosa e autônoma e repelia, constantemente, a
volúpia do garboso Demonão.
O homem mais forte do reino,
proclamador da Independência, era viciado em sexo e chorava de saudades quando
não correspondido. Criava versinhos infantis e enviava bilhetes duas vezes ao
dia.
A mais famosa amante de Dom Pedro
I foi protagonista em episódios 'calientes' da história do Brazil Império. Há
dezenas de cartas chamando-a carinhosamente de Titília
e exagerando nos detalhes íntimos. Desenhos do próprio pênis ou pelos pubianos
eram enviados. Isto era considerado, à época, prova de grande fidelidade e
compromisso.
Pedro escrevia: “Quero ir aos
cofres!”, quando intimava a marquesa aos finalmentes.
Em uma das cartas escritas, D.
Pedro revela, com orgulho, que acabara de mandar fechar o teatro que havia
proibido a entrada da amante. Outro escândalo foi na Semana Santa. Domitila
queria assistir à cerimônia religiosa na tribuna reservada às Damas do Paço,
mas foi barrada. O imperador ordenou que ela fosse levada ao recinto e as damas
se retiraram.
O envolvimento íntimo de D. Pedro
e a marquesa foi marcado pelos apelos sexuais presentes nos textos, sempre
descritivos. Em algumas correspondências, Domitila não apenas tinha interesse
em saber o estado de saúde de pênis do amado, como pedia para descrever como o
mesmo estava em relação às lembranças do casal. O príncipe-regente não deixava
de responder e abusava da criatividade na resposta.
Sempre usado como o principal
meio do casal para agendar os encontros casuais, não apenas as datas eram
registradas, mas também as técnicas utilizadas. Um dos preferidos de D. Pedro
era o pompoarismo, método oriental que a marquesa desenvolvia para contrair a
vagina durante o ato sexual.
Como um casal da época, não
faltavam apelidos, que serviam também de pseudônimos para dificultar a
identificação dos membros da corte. Dom Pedro I tinha um apelido ‘caliente’,
assinando cartas como “Fogo Foguinho” e “Demonão”. A marquesa, por sua vez,
tinha o fofinho apelido de “Titília”, referindo-se ao seu nome no diminutivo.
"Nada mais digo senão que
sou teu, e do mesmo modo quer esteja no céu, no inferno ou não sei onde. Tu
existes e existirás sempre em minha lembrança, e não passa um momento que meu
coração me não doa de saudades tuas...", dizia uma das cartas escritas por
Fogo Foguinho.
O falecimento da Imperatriz
Leopoldina gerou suspeitas e criou revolta em torno da imagem da nada oculta
marquesa. Houve boatos de envenenamento por parte de Domitila e o Imperador
através de carta anunciou que casaria com Amélia. Na correspondência, a
informou que a amava, mas daria prioridade a sua reputação.
Leopoldina deixou missiva no
final da vida, revelando-se uma mulher depressiva, decorrente do adultério do
marido. Dizia ter horror a sexo e quando se casou, nutria a esperança de que
Pedro fosse gostar dela por suas qualidades morais, não pela cama e nem pela
beleza física. O imperador respondia que fazia amor de matrimônio com
Leopoldina e amor de devoção com Domitila.
Conteúdo
erótico não era comum. Quando Pedro reconheceu sua filha Isabel com Domitila e
colocou a bastarda para viver ao lado de seus rebentos na Corte, Leopoldina,
humilhada, deixou a mágoa transparecer nas correspondências. Em uma delas
desabafou: “Mulheres indignas fazendo de Pompadour (Mme. de Pompadour- 1721/1764-Amante e secretária de Luís XV, foi uma figura influente
nos negócios de estado da França. Amiga de iluministas como Voltaire, também
foi uma grande patrocinadora das artes) e Maintenon (Mme. de Maintenon -1635-1719 -Entrou na corte de Luís XIV como governanta de uma amante
anterior do rei francês. Chegou a se casar com o monarca, mas não foi proclamada
rainha. Piedosa, impôs um perfil carola à corte).!!
E
pior ainda, não têm nenhuma educação... e os outros têm que silenciar”. “A
comédia era encenada em público. A única coisa não visível, silenciada,
sufocada, era o sofrimento da imperatriz.”
Leopoldina também demonstrou seus sentimentos quando da morte do pai da
rival. Pedro não saiu do lado de Domitila e pagou as despesas do funeral. Leopoldina
escreveu-lhe que fizesse as malas e fosse viver com a favorita.
A correspondência de Leopoldina,
Pedro e Domitila com informações e manuscritos das pessoas que cercavam a
família real e assistiam ao drama todo, entrelaçou as histórias e penetrou nos
mais profundos sentimentos dos envolvidos. Saem daí informações preciosas sobre
a personalidade dos 3 principais personagens – e, claro, sobre a história do
país durante o Primeiro Reinado.
Apesar da vasta correspondência,
Domitila nunca fez menção à imperatriz, de quem era oficialmente, dama de
honra.
O relacionamento durou até 1829.
Sete anos sob o manto de escândalos e paixão, que podem ser acompanhados nas
cartas trocadas entre eles e dispersas em arquivos públicos e particulares,
nacionais e estrangeiros.
O relacionamento de Domitila com
d. Pedro I gerou cinco filhos ilegítimos,
e desses um nasceu morto e dois morreram na infância. As duas filhas que
chegaram à idade adulta foram Isabel Maria de Alcântara Brasileira (1824-1898),
conhecida como duquesa de Goiás, e Maria Isabel II de Alcântara Bourbon
(1830-1896), conhecida como condessa de Iguaçu, por casamento. Os títulos
nobiliárquicos das duas foram concedidos por d. Pedro I.
Mas nem tudo foram
flores no caso de Domitila com o imperador.
No período em que esteve próxima
da nobreza brasileira, Titilia querendo conhecer a Corte Imperial mais de perto
e expandir seus horizontes, passou a frequentar alguns lugares luxuosos e
“nobres”. A Marquesa nunca foi aceita e certa vez, quando tentou entrar no
Teatro da Constituição, foi barrada por ter sido confundida com uma prostituta.
Até hoje o motivo da confusão é
incerto. Não se sabe se eram as roupas de Domitila, diferentes dos vestidos
pelas mulheres da realeza ou a forma de se portar. O fato deixou o imperador
furioso. Imediatamente mandou que as
cortinas do teatro fossem descidas e se encerrasse a apresentação. Desta forma,
a honra e orgulho da Marquesa foram preservados.
O sofrimento e morte prematura da
imperatriz d. Leopoldina em 11 de dezembro de 1826, prejudicaram a imagem da
marquesa de Santos.
Sentada em uma cadeira
desconfortável, uma gorda e descuidada senhora de olhos muito azuis sofreu
cerca de cinco horas com as dores do parto. Era a sétima vez que passava por
situação semelhante, das quais haviam vingado somente 4 mulheres. Nascia Dom
Pedro II, Imperador do Brazil, por quase meio século. Veio ao mundo saudável,
com 47 cm, às duas e meia da manhã do dia dois de dezembro de 1825.
Amargurada e grávida mais uma
vez, viu o marido viajar
para o sul em novembro de 1826. O exército brazileiro lutava contra Buenos Aires
pela posse da Província Cisplatina, atual Uruguai. Leopoldina estava com a
saúde fragilizada e em poucos dias morreu. As razões de sua tristeza e de seu
mal eram conhecidas. Rebelou-se momentos antes de morrer. Despejou sobre
Domitila toda sua raiva e rancor. Delirando, amaldiçoava a amante do marido,
atribuindo-lhe poderes de feitiçaria. Reagia com gritos imaginando vê-la. Os
sentimentos da submissa imperatriz, contidos por tanto tempo, explodiam.
Imagem de mártir e quase feita
santa, Leopoldina, mãe exemplar, sofria com os destemperos e infidelidades do
imperador, morreu jovem. Segundo boatos da época, vítima de violência doméstica
pelo exaltado marido.
A imperatriz foi transformada em
heroína pela população, que formou filas em seu enterro, com um beija-mão no corpo já
quase em estado de decomposição.
Após manchar sua imagem com
inúmeras traições, o imperador ficou emocionalmente abalado e teve recaídas com
a Marquesa de Santos
O povo se opôs aos romances
extraconjugais de Dom Pedro I e a marquesa de Santos, que passou a ser tratada
como inimiga número um da nação. Tal era esse sentimento que, quando Leopoldina
morreu, uma turba foi à casa de Domitila com o intuito de apedrejá-la.
Domitila percebeu que o sonho de
se tornar imperatriz estava cada vez mais distante. Transformada na vilã número
1 do país. Sua casa apedrejada, ela passou a ser má-vista na Corte e publicamente difamada. O próprio
imperador entrou em descrédito por conta da forma como a imperatriz morreu.
Politicamente ocorria o pior: Pedro
não conseguia um casamento, que reforçasse a monarquia. Colocava-se o fato na
permanência de Domitila na Corte. O imperador amava Titília, mas amava ainda
mais sua posição
Com a morte de Leopoldina, Dom
Pedro I precisava se casar novamente. Seus atos violentos com a falecida
imperatriz tinham acabado com sua reputação. Ele pretendia arrumar um casamento
com alguém que tivesse o sangue da nobreza para melhorar seu status.
Quase dois anos da morte de
Leopoldina, o monarca, de péssima reputação nas cortes não conseguira ainda
arranjar uma esposa entre as mulheres nobres da corte europeia. Sua fama não era muito boa por
conta da presença de Domitila.
Entretanto, apesar da imagem
política desgastada e das pressões do ex-sogro, que o chamava publicamente de
canalha, consegue se casar com uma jovem de 16 anos chamada Maria Amélia de
Leuchtenberg (1812-1873). Filha de Eugênio de Beauharnais, Duque de
Leuchtenberg, e da princesa Augusta da Baviera, concordou em casar-se com o
imperador.
Apesar de nunca ter visto Amélia,
D.Pedro I aceitou a condição do noivado arranjado. “A amante do imperador fosse morar bem longe da Corte” e no
dia 28 de agosto de 1828, casaram-se por procuração.
A nova Imperatriz era uma linda
moça. Sem sangue real e sem prestígio na Europa, não trouxe benefício político,
mas quando D. Pedro I viu a beleza da jovem, foi o ponto final do
relacionamento com a marquesa.
Com a chegada ao Rio de Janeiro
da nova imperatriz brasileira, rompe com a amante Domitila, grávida da última
filha do imperador e expulsa-a da corte, dando fim a uma história de amor que
abalou o império.
Em 17 de outubro do mesmo ano,
Pedro e Amélia ratificaram os votos realizados por procuração em uma missa
nupcial, oficializando o segundo casamento do imperador.
Historicamente, não houve novos
registros de traições por parte do imperador, mostrando o que a promessa feita
ao pai da esposa era sincera. Amélia, por outro lado, foi bem recebida pela
nova família, além de ser bastante amistosa com os filhos provenientes do
primeiro casamento do marido. A relação durou oito anos e só foi interrompida
pelo falecimento de Dom Pedro, em 1834.
Dom Pedro terminou o romance e Titilia
foi “dispensada” da Corte.
Domitila que chegara a sonhar que
seria imperatriz, sentiu-se tão traída pelo imperador quanto a falecida
Leopoldina, exigiu uma indenização ou não sairia do Rio. Foi um ato simbólico. A vida dera limões para
Domitila e ela abriu uma fábrica de limonada. Não era apenas mulher enfrentando
um homem. Era uma mulher enfrentando o imperador do Brazil. Dom Pedro pagou.
Finalmente, mudou-se novamente
para sua cidade natal, a provinciana São Paulo na companhia das duas filhas que teve com Dom Pedro.
No início de 1833, Domitila envolve-se e se amanceba
com o então
presidente da Província de São Paulo, Rafael Tobias de Aguiar, o
“reizinho de São Paulo”. Brigadeiro, político e rico fazendeiro de Sorocaba. Um dos
liberais da província. Eleito duas vezes governador da província de São Paulo
foi o primeiro paulista a ser presidente da
Província de São Paulo. Era amigo íntimo, de infância, do regente do Império, o
padre Diogo Antônio Feijó. Domitila tornou-se primeira dama do estado em duas ocasiões.
O casamento foi oficializado somente em 1842 em Sorocaba, durante a Revolução
Liberal.
Domitila sempre foi uma
sobrevivente. Muito influente na cidade e sua postura passou a
ser de uma dama da sociedade. Não davam mais importância a seu romance que
chocara a moralidade da época e ela passou a ser bem vista pelas pessoas.
Certa feita, foi a Sorocaba, com
os filhos, encontrar-se com o marido em Sorocaba, cruzando, à noite, a
movimentação de dois exércitos. Com o término da revolta, Tobias fugiu para o
Rio Grande do Sul e Domitila refugiou-se com as crianças e a sogra em um
convento de Sorocaba. Cavou uma vala no jardim e escondeu os bens da família e
do próprio convento. A presença de Domitila impediu que as tropas
governamentais que invadiram a cidade profanassem o local. Na época, com 44
anos e 14 gestações, recebeu especial deferência do futuro Duque de Caxias, que
ordenou aos oficiais escoltarem-na para São Paulo, alertando: “Estimo que a
marquesa se vá conservando-se fresca”.
Tobias de Aguiar foi capturado e
levado preso para o Rio de Janeiro. Domitila partiu para a corte e rogou, por
meio de um procurador, ao Imperador D. Pedro II que permitisse cuidar do
companheiro doente. O requerimento foi deferido, e ela pôde ficar com o marido
na prisão. Meses depois, o imperador anistiou os envolvidos na revolução e o
casal voltou para São Paulo.
Domitila e Tobias ficaram juntos
até a morte dele, em 1857. A união durou 24 anos e juntos tiveram seis filhos:
Rafael, João, Antônio, Brasílico, Gertrudes e Heitor, os dois últimos falecidos
na infância.
Domitila, sempre lembrada por seu
caso de amor com Pedro I, é esquecida quanto ao seu envolvimento nas questões
nacionais. Doou, quando cortesã, como “brasileira e paulista”, grande quantia à
Guerra da Cisplatina (1825-1828). Quarenta anos depois, durante a Guerra do
Paraguai (1864-1870), abrigou em sua fazenda tropas que marchavam para Mato
Grosso. Pouco se fala de seu amor pelo segundo marido, seu envolvimento na
revolução liberal de 1842 ou sua atividade política no Partido Liberal de São
Paulo, de “sua força de mulher paulista”.
O relacionamento ardente entre Demonão e Titília chegara ao fim, mas a
vida da Marquesa não. A amante mais famosa de Dom Pedro, recomeçou a vida em
sua cidade natal.
A Domitila que retornou à
provinciana São Paulo em 1829, na companhia das duas filhas que teve com Dom
Pedro era bem diferente da Titilia que, aos quinze anos de idade, partira para
Minas com o primeiro marido em 1813.
Após a morte de Tobias de Aguiar,
Domitila permanece viúva até o fim da vida. Rompendo os padrões de
comportamento que se esperava de uma mulher de seu tempo, Domitila impressionou
a sociedade ao mostrar sua força e fez-se respeitada.
Durante seus últimos 10 anos de
vida dedicou-se a obras de caridade, filantropia e atividades culturais.
Caridosa e muito devota, ajudou a
Santa Casa de Misericórdia a ter a sua primeira sede própria. Doou dinheiro
para a construção da capela do Cemitério da Consolação e de uma casa para
dispensário médico.
Socorreu desamparados, alimentou
famintos e ajudou estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.
Cuidava destes quando adoeciam e recebia-os para refeições e festas em seu
palacete.
Às vistas da respeitável matrona,
centenas de casamentos entre moças paulistas e futuros bacharéis foram arranjados.
A Marquesa fazia-se presente na
comemoração do 7 de setembro e do 11 de agosto, dia da implantação dos cursos
jurídicos no Brazil.
Diferente dos costumes da época,
a Marquesa exigira que o casamento fosse feito com separação de bens. Com bens
que incluíam mais de quarenta escravos, Domitila era uma das pessoas mais
abastadas da cidade, e isso significava independência. Ela geriu sua fortuna,
mantendo-se independente financeiramente.
Comprou um casarão na Rua do
Carmo, hoje Rua Roberto Simonsen. A casa, grande e aconchegante, ficou
conhecida como Solar da Marquesa. Lá, realizava eventos como
saraus de literatura, música e alguns bailes de máscaras. Em seus salões,
declamou o estudante e poeta Álvares de Azevedo e tocou, entre outros, o
pianista Emilio Correa do Lago.
O Solar é o último exemplar da
arquitetura residencial do século 18 na cidade de São Paulo. Ele é o mais
antigo e o principal modelo de como eram as casas paulistanas na época. Mesmo
tendo sofrido inúmeras alterações e algumas restaurações, o casarão ainda
mantém características que possuía quando a Marquesa ainda morava no edifício.
Domitila faleceu em seu solar às 16h30 do dia 3 de novembro de
1867, às vésperas de completar 70 anos.
O óbito aconteceu devido a uma grave infecção generalizada que desencadeou uma
enterocolite, inflamação mortal do trato digestivo. Seu enterro foi
seguido pela elite cultural, econômica e política paulista, com a presença do
presidente da província, Saldanha Marinho.
O total dos bens inventariados da
Marquesa chegou a 1.308:848$600 (um mil, trezentos e oito contos, oitocentos e
quarenta e oito mil e seiscentos réis), que daria, atualmente, cerca de cento e
vinte milhões de reais. Deixou em testamento dinheiro para a compra das alfaias
litúrgicas da capela do cemitério municipal e esmolas para a “pobreza
envergonhada”.
Sepultada no Cemitério da
Consolação e transformou-se numa espécie de em santa popular, procurada pelas
moças que queriam um bom parceiro. Em seu túmulo, sempre bem cuidado e florido,
são colocadas placas de graças e flores. Muitas pessoas a consideram santa
protetora das prostitutas.
Sem dúvida, Domitila foi bem além
de amante de um Imperador,
Foi “uma brava mulher paulista.”
Texto compilado a partir dos
artigos publicados na Internet:
Caio Tortamano - “...o casamento
desastroso da Marquesa de Santos”
Claudia de Castro - “A história
do triângulo amoroso de Dom Pedro I”
Dayane Borges – “Marquesa de
Santos, quem foi?”
Dilva Frazão – “Marquesa de
Santos - A Aristocrata brasileira”
Fábio Previdelli – “Marquesa de
Santos, a Baronesa de Sorocaba e D. Pedro”
Guilherme de Athayde – “Quem foi
Domitila de Castro, a Marquesa de Santos”
Isabela Barreiros - Marquesa de
Santos, a Santa das Prostitutas -
Laurentino Gomes - “1822”
Mary del Priore – “Carne e o
Sangue”
M.R.Terci – “Dom Pedro I:
Cinquenta Tons de Demonão”
Paulo Rezzutti – “Marquesa de
Santos, bem mais que amante”
Penélope Coelho -” Traição e abandono:
... Dom Pedro I e Domitila de Castro
Wallacy Ferrari - “A saga de Dom
Pedro I após a trágica morte de Leopoldina”
Wallacy Ferrari – “Cartas
eróticas: a agitada vida sexual da Marquesa...”
N.A. – Brazil está com “z”,
porque era escrito assim até 1916.