29 agosto 2019

QUEIMAÇÃO

QUEIMAÇÃO

Amazônia era legal,está se tornando virtual,
Pouco a pouco chegando ao fim

Fogo corre pelo chão, Pajé se desespera
Queima em brasa o terreiro do Avá Canoeiro
Cerra os olhos para não ver o fogareiro
Incêndio no rio ameaçava Anhanguera 
Sem casa, sem Floresta, sofre o guerreiro
Corrida sem destino de intocadas raças
Busca, em vão, pelas trilhas, não há caças

Amazônia era legal, está se tornando virtual,
Pouco a pouco chegando ao fim

Revoada sem destino, passa o passaredo
Asas e bicos queimados, mortos de medo
Jauaperis, Yanomanis, Arawetés
No Javaés não tem mais Tucunarés
Xô Caburé, amarelinho, andorinhão,
Xô Cardeal, araponga, arara, azulão
SOS Tupã e deuses de todas as fés

Amazônia era legal, está se tornando virtual,
Pouco a pouco chegando ao fim

Tum, tum, tum... acelerados os corações
Será que o Negro desviará do Solimões?
Foi o Boto... Foi o Boto... Sedutor de cunhantãs
A mata perdendo o verde... Vingança dos céus
Anhangá sopra línguas de fogo pelas manhãs
Queima igual Sodoma, de qual pecado serão réus
Xô Patativa, xô sanhaçu, choroso canto do Uirapuru

Amazônia era legal, está se tornando virtual,
Pouco a pouco chegando ao fim
Araguaia, Tapajós,Tocantins, Xingu
Rios morrendo, onde viverá Pirarucu,
Sem pássaro no céu, lago sem tracajá
Tristeza no Jawary, silencia o Boi-Bumbá
Não tem mais Caprichoso, adeus Garantido
Veio a queimação, cantar perdeu o sentido
Xô Figuinha, xô flautim, xô pequeno curumim
Amazônia era legal, está se tornando virtual,
Pouco a pouco chegando ao fim
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https://www.recantodasletras.com.br/poesias/6732133

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