O acidental tiro no pé é versão oficial.
Quem acompanhava Castro Alves
na fatídica tarde de 11. Novembro.1868, no bairro da Mooca – ou Várzea do Brás?
Pesquisas indicam que para Cecéu
não havia limites quando o assunto era a conquista.
Sobre a grande paixão Eugênia
Câmara, encontra-se:
... "Eugênia era dez anos
mais velha que Castro Alves e temia viver a história de amor”...
...”Em 1866, após um longo
período de indecisões e recuos, que nunca soube se eram meus ou dela,
finalmente conseguiu arrancá-la do empresário Furtado Coelho, com quem vivia e
levou-a junto com a filha, para morar com o poeta
num subúrbio do Recife”...
...”A
vaidade do poeta incomodava a atriz. O relacionamento era conturbado”... ...”Tudo
seria perfeito, não fossem as cada vez mais constantes desavenças com Eugênia.
Cenas violentas, ciúmes, brigas, precárias reconciliações. Sopravam histórias
de adultério”...
...”Eugênia
retorna ao palco e as brigas por ciúmes se sucedem”...
...”Eugênia
o abandona definitivamente”...
...”Angustiado
e deprimido, Castro Alves para de ler e escrever, somente passeia e vai à caça,
ainda que não disparasse nem um tiro"...
Será que foi acidente ou um
tiro de algum enciumado rival?
...........................................................................................................................
Castro Alves
Castro Alves nasceu em 14 de março de 1847 e era alto,
forte, esbelto, sensual, elegante e vaidoso. Usava roupas pretas, colocava óleo
nos cabelos, pó de arroz no rosto e dizia, na frente de um espelho: "Tremei,
pais de família! Don Juan vai sair."
Em 1862 ingressou na Faculdade de Direito de Recife. Mau estudante. Antes de ser “calouro”, já era notado como poeta.
Em Recife,
Castro
Alves, o Cecéu, com 15 anos e longe do pai, é dono do seu nariz. Inteira
liberdade, no bairro da boémia - Soledade. Abandona a república de estudantes para ir viver com Idalina - a Bárbara
da sua poesia Os Anjos da Meia-Noite, que o aconchega em
sua cama, em uma casa
alugada na rua do Lima, no bairro de Sto.
Amaro.
Surge Eugênia
O idílio com Idalina teve a
duração de um ano, apenas.
Eugênia Infante Câmara chegara
ao Rio
de Janeiro em 1859, levada pelo artista e empresário Furtado
Coelho.
Em 1863: Apaixona-se pela
atriz.
Quem poderia resistir ao maior
poeta do Brasil?
O poeta frequentava o Teatro
Santa Isabel e conhece Eugênia e cai perdidamente de amores.
Eugênia Câmara, a Dama Negra,
atriz portuguesa que, de forma gaiata, domina o palco. Fora casada com o ator
Furtado Coelho, do qual tinha uma filha pequena.
Nada impede os avanços do Cecéu,
adolescente sedutor.
Aos 16 anos, imberbe e
apaixonado, o poeta jamais levaria em consideração alguns fatores que poderiam
pesar contra tal escolha:
Sua musa era dez anos mais
velha que ele, tinha se casado antes (com o ator Luís Cândido Furtado Coelho) e
possuía uma filha. Além disso, tendo se separado do marido, era a amante de um
rico português chamado Veríssimo Chaves.
Os 10 anos mais do que o
poeta, também não importaram à Dama Negra.
Ela não se esquiva do romance que desponta, adiando
apenas a florada.
Para Castro Alves, Eugênia
era, além de bonita, uma mulher experiente e possuidora de uma mentalidade
muito aberta. Para a atriz, representar a fonte de paixão de um jovem poeta,
charmoso e genial, era algo que ela gostava.
Eugênia da Câmara, a primeira
atriz da Companhia de Duarte Coimbra, seria, de fato, fonte do seu amor. O
poeta, com um sorriso nos lábios, um verso ou um convite para fugirem, sempre
estava na plateia a cortejá-la.
A grande e fecundante paixão
por Eugênia Câmara percorria-o como corrente elétrica, inspirando alguns dos
seus mais belos poemas de esperança, euforia, desespero, saudade. Outros amores
e encantamentos constituiriam o ponto de partida igualmente concreto de outros
poemas.
Em 1866, morre o pai e, pouco depois, iniciou a
apaixonada ligação amorosa, tornando-se amante de Eugênia Câmara. A atriz
concorda em sacrificar a carreira. Tornam-se amantes e convence-a a fugir com
ele para a Bahia. Mudam-se para a chácara Boa Vista, perto da localidade
de Tejipió.
Entusiasma-se pela vida teatral.
Em 1867, o poeta abandona o curso
de Direito, embarcando com Eugênia para Salvador. Nesta cidade, mesmo tendo
sido muito bem recebido por parentes e amigos, o jovem não quis se hospedar com
Eugênia na casa da família, já que vivia com ela uma situação pouco ortodoxa
para a época. Foram morar no Hotel Figueiredo, no antigo largo do Teatro, hoje a
Praça Castro Alves.
Os rumores da vida privada do
casal se espalhariam pelas vias públicas. Aonde já se viu um rapaz de boa
família, aos 20 anos de idade, ter como amante uma atriz cômica de 30 anos, já
separada do marido e mãe de uma filha?
Enquanto isso, no Teatro São João, Eugênia desempenha o principal papel feminino do
“Gonzaga”. Sucesso, consagração do autor em cena aberta, embora as senhoras da
capital baiana torcessem o nariz à ligação do poeta com uma “cômica de má vida”.
Salvador era acanhada a vida lenta e ele tem pressa, muita pressa.
Em Fevereiro de 1868 Castro Alves e Eugênia partem para o Rio
de Janeiro.
Em Março de 68, viajam
para São Paulo, onde ele requer matrícula no 3º. Ano de Direito.
Talvez pela
tuberculose a minar os seus pulmões, talvez pelo arrefecimento do amor de Eugênia, surgem as contrariedades.
Eugênia, a Dama Negra está a
envelhecer e o poeta corre em
busca da juventude, erotismo, aventuras várias.
Devido ao grande ciúme sentido
por ambas as partes, o casal viveria uma relação intensa e atribulada.
Em setembro de 1868, Eugênia
abandonaria o poeta, deixando-o prostrado e sem entusiasmo.
Em Outubro de 68, encontram-se,
pela última vez, quando Eugênia sobe ao palco do Teatro São José para, mais uma
vez, interpretar o principal papel feminino do “Gonzaga”. “Não quero mais o teu amor”, diz Castro Alves
para Eugênia Câmara.
Isolamento, melancolia, tabaco, nuvens de fumo, tuberculose
agravada.
Como se isso não fosse o bastante.
Para distrair-se, o poeta passa a caçar perdizes na
região do Brás.
Não se sabe que tivesse disparado um tiro sequer, exceto
o fatídico.
Dia 11 de novembro de 1868, Castro Alves carregava uma
espingarda, quando ocorreu o acidente, Ao saltar uma vala ou um córrego, o poeta
tropeçou e ao tentar se firmar na ribanceira, a arma dispara e o tiro
acerta-lhe no calcanhar esquerdo. O pé terá de ser amputado.
Durante os meses de convalescença, já separado de
Eugênia, o poeta ficou recolhido na casa de um amigo. E a atriz, por sua vez, tentando
reabilitar a sua carreira artística, casou-se com o maestro Antônio de Assis
Osternold.
17 de Novembro de 69: Castro Alves, apoiado numa muleta, vai assistir a um espetáculo de Eugênia no
Teatro Fénix Dramática. Os dois antigos amantes têm ainda uma troca de
palavras.
Daí por diante...
O fim do Don Juan
Castro Alves sempre encontraria o mesmo remédio para os seus males e a
sua solidão: o amor! Ainda que manco e doente, continuava a ser o Don
Juan de outrora.
Superada a dolorosa separação de Eugênia, ele passa a adquirir novas
musas inspiradoras, entusiasmando-se por várias mulheres, dentre as quais Leonídia
Fraga, a companheira das quietas tardes no sertão.
Apesar do
declínio físico, produziu alguns dos seus mais belos versos, animado por um
derradeiro amor, platônico, pela soprano italiana Agnese Trinci Murri. A última grande
musa do poeta.
Primeiro, o poeta enamorou-se de sua voz e, em seguida, se apaixonaria
pela própria cantora. Agnese jamais se renderia aos sentimentos de Castro
Alves, ou às poesias e cartas de amor que ele lhe escreveu. Resistiu ao
relacionamento amoroso entre ambos.
No dia 29 de junho de 1869, quando ele já se encontrava acamado, Agnese
pediria para vê-lo uma última vez. Castro Alves não permitiu a visita.
Diz o jornalista e historiador Paulo Matos:...”Intensa e atribulada a
vida amorosa do Poeta dos Escravos, que amou mulheres de todas as classes
sociais. Idalina foi a musa de sua adolescência, dos primeiros tempos do
Recife; Maria Cândida Garcez era a "estrela transformada em virgem";
Cândida de Campos o "nenúfar sobre o azul do lago"; Eulália
Filgueiras, a "visão do céu"; Inês, a "rosa da Espanha";
Leonídia Fraga, pela qual "rosas mudam-se os martírios". E ainda
Sinhá Lopes dos Anjos, envolta na garoa paulistana; e as três irmãs judias,
fronteiriças à sua casa na Rua do Sodré, em 1866: Simy, Esther e Mary. Para
elas escreveu Hebréia, dedicando o poema "à mais bela". Nos
últimos meses de vida, apaixonou-se por uma bela cantora lírica italiana,
Agnese”... (Paulo Matos, jornalista e historiador).
................................................................................................................
Sexta-feira,
três e meia da tarde, 6 de julho de 1871. Na casa de número 20 da Rua do Sodré,
morria Cecéu, com 24 anos.
Três anos
depois, morreria a sua Eugênia, aos 37 anos. .................................................................................................................
Cecéu e a
Dama Negra viveram uma grande história de amor.
Mas, volto à
pergunta: Terá sido um tiro acidental ou ciúme de alguém ferido?
----------------------------------------------------------------------------------------
FONTES:
ALMEIDA, Norlandio Meirelles de. Cronologia de
Castro Alves. São Paulo: Editora Pedro II, 1960.
AMADO, Jorge. A.B.C. de Castro Alves. 26. ed.
Rio de Janeiro: Record, 1980.
CALMON, Pedro. Castro Alves: o homem e a obra. Rio
de Janeiro: José Olympio; Brasília: INL, 1973.
CASTRO Alves, poesias: edição comemorativa dos 150 anos
de nascimento de Antônio de Castro Alves. Rio de Janeiro: Odebrecht; São Paulo:
Nova Terra Comunicações; Brasília, DF: Fundação Banco do Brasil, 1997.
MATOS, Edilene. Castro Alves no folheto de
cordel. [S.n.t.].
VAINSENCHER, Semira Adler - Pesquisadora da Fundação
Joaquim Nabuco
MATOS, Paulo - jornalista e historiador – in Castro Alves,
o poeta libertário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário