O PEDINTE
O Homem caminhava poucos passos a minha frente.
Chamou-me a atenção a falta do antebraço direito.
O Homem parou defronte a escadaria da Igreja, estendendo
o olhar para seu topo.
Instintivamente, também parei.
Quem sabe colheria um flash do cotidiano.
Sentar-se-ia a esmolar ou entraria para orar?
No topo da escadaria de uns quinze ou vinte degraus
surgiu a Moça. Jovem, calças brancas, justas, saindo da Igreja.
Ah! Que pecados teria confessado, arguiram meus diabinhos.
A Moça desce, desfilando.
Concluo que nada demais sairia da cena e retomo meu
caminhar... Lento...
Passo pelo Homem de olhar fixo na escadaria.
A Moça termina a descida, tomando o mesmo sentido que eu.
“Que gostosa!”, ouve-se murmurante.
Paramos...
A Moça, eu e o mundo...
Quase em estado de choque.
A Moça procura a origem...
Olha para o Homem...
Olha para mim, com um sorriso desaprovador.
Mundo saindo do choque...
A Moça acelera o passo...
Demoro uns segundos...
Suficientes e necessários para ver o Homem sentar-se na
escadaria e começar seu ofício, tilintando uma latinha de moeda, com o braço
completo...
No topo da escada, surgem duas Senhoras.
O Homem estende o braço, olhar súplice...
“Uma moedinha”, murmura doloroso à passagem delas.
Diabinhos matutam: “O que o Homem teria falado fossem as
Senhoras vinte anos mais jovens?”
Seguem a mesma direção da Moça...
Ah! A Moça...
Sumira na multidão...
Vida que segue...
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