Todas as manhãs, nos longos minutos à espera
do ônibus, no ponto lotado, tenho por costume – ou seria vício, mania? – ficar
lendo as notícias de primeira página dos jornais e as capas de revistas.
“Político gasta dois mil dólares para jantar
em Nova York”.
“Marido de atriz ganhava mais de noventa mil
reais por mês”.
“Cantora recebe trezentos mil para financiar
livro de memórias”.
“Diretores da Petrobrás desviam três milhões
para partidos políticos”.
Repetitivas notícias. Sem novidades.
Só muda os valores de minha indignação.
Enquanto decido qual jornal comprar, matuto
olhando para os rostos sonolentos que também esperam seus ônibus.
Quantos ali têm noção de quantos Pratos
Feitos seria possível comprar com os dólares de um único jantar?
Saberiam a diferença entre esses milhares de dólares
e milhões de reais?
Rápidas contas à cabeça.
Eu mesmo não faço a menor ideia de quantos
cofrinhos de porquinhos seria necessário encher para completar o menor valor
acima - dois mil dólares – em moedinhas.
O que eu faria com três milhões de reais, sem
que seja correr maior risco de um sequestro?
Volto a tentar adivinhar o que outros fariam?
Tenho quase certeza que o rapaz de camisa de
clube de futebol, tivesse dois mil dólares, não iria jantar em Nova York.
Talvez trocasse o fogão, a geladeira de sua mãe e com uma “boa” compra de
mercado, faria para um “super- churrasco” no domingo.
Se ganhasse três milhões de reais, apostaria
na “mega-sena” novamente?
Aquele de paletó e gravata? O casal abraçadinho?
Comprariam um apartamento e aplicariam o
restante.
A garota com livros? Realizaria o sonho de
poder apenas estudar.
Quantos apenas não invejam e fariam o mesmo
das manchetes?
O dinheiro, enfim, é mera ficção.
Sonhos e pesadelos.
Quando falta, sonha-se em tê-lo como solução
de problemas. Alguns simples e imperceptíveis quando se tem em excesso.
Um pesadelo ante ao risco de perdê-lo. Em
aplicações na Bolsa ou na falta do emprego.
Distraído nas divagações, quase não percebo a
chegada de meu ônibus.
Na fila para o embarque, ouço um tilintar
aproximando-se.
“Uma moeda para comprar leite!” A dona da voz
de tom súplice apresenta-se, tocando-me o braço. Traz numa das mãos uma
panelinha velha com algumas moedas e noutra puxa a criança de uns três anos.
Instantâneo dilema à mente.
É correto dar-se esmola? Estímulo à
mendicância? A criança pode ser de “aluguel”.
Ora, também não são corretas muitas das coisas
que fazem com o dinheiro “público”.
Reviro o bolso e jogo na panelinha algumas
das moedas que usaria para comprar um dos jornais.
Ela agradece e seguimos nossas vidas.
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