15 janeiro 2012

ITANHAÉM E O DIREITO AO SOSSEGO

Na mesma semana em que se divulgou a vitória de Itanhaém no combate a dengue, outro fato relacionado à saúde, deixa-me indignado e irritado.
Causa diagnosticada da irritação: exposição excessiva ao barulho.
Neste caso, a cidade é Itanhaém – litoral sul de São Paulo -, mas serve para qualquer uma onde a paz do cidadão é desrespeitada pelo poder público que, a titulo de divertir o turista, contrata (ou autoriza) caminhões de som para fazerem barulho na praia, por sete, oito, dez horas diárias.
Assim se deu.
Na primeira semana de Janeiro de 2012 - quinta, sexta, sábado e domingo - instalou-se na Praia do Sonho, conhecida também por abrigar a Cama de Anchieta, um caminhão de uma emissora de FM, com o patrocínio de uma empresa de esfihas, recentemente instalada na cidade, e uma marca de cerveja.
Talvez, oculto entre os patrocinadores haja interessados em garantir o emprego aos otorrinolaringologistas da cidade ou, porque não, no crescimento do comércio de aparelhos auditivos.
Fato o barulho ter permanecido, ininterrupto das 10 às 17 horas, em volume certamente muito superior ao recomendado como suportável pelo ser humano.
Estivesse entre nós, duvido que Anchieta conseguisse trabalhar em sua catequese com um barulho desses
Quem sabe até castigasse os índios se batessem um tamborzinho enquanto falasse aos aborígenes ou mesmo interrompessem sua “siesta”.
No mínimo, mandá-los-ia tocar lá na Cibratel ou outra praia mais deserta da cidade. Quem sabe na aldeia de Abarebebê, em Peruíbe?
No Poço das Antas em Mongaguá, talvez fosse mais apropriado, cochicha-me o Grilo Falante.
Seja para onde fossem, com certeza, respeitariam o Jesuíta.
Entretanto, nestes tempos de falta de respeito e ética, tudo se pode nas praias, ainda que fira o direito ao sossego dos moradores, garantido inclusive no Código Civil.
Mas aos organizadores do evento, parece tratarem por idiotas aos que incomodam.
O que a Prefeitura não percebe em seu oportunismo de momento, é que estes moradores, através do pagamento de seus impostos, é que sustentam a cidade, garantem os salários dos criadores da programação cultural da cidade e movimentam efetivamente o comércio da cidade ao longo do ano.
Vivêssemos numa democracia, far-se-iam análises e consultas prévias sobre as conseqüências do evento.
Algum morador da Praia do Sonho foi consultado sobre o interesse ou inconveniência em ouvir músicas – de gosto duvidoso por sinal – durante o dia inteiro?
Pergunto, e sei que alguns outros incomodados fazem o mesmo questionamento: Se o som não incomoda, porque não colocam o trio elétrico no pátio do estacionamento da Prefeitura, durante a semana, e em frente das casas do Prefeito, Secretário da Cultura e demais organizadores aos sábados e domingos.
Seguindo na trilha das consultas, se conseguirmos uma, chegaremos aos médicos.
Consultou-se algum otorrino sobre as irreversíveis lesões auditivas causadas pela prolongada exposição a ruídos superiores a 70 dB?
Talvez entre os presentes na praia houvesse diversos trabalhadores que recebem EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) na empresa onde trabalha, para proteger-se de máquinas muito menos ruidosas que o som a que se expunham.
Ouviu-se algum dermatologista ou oncologista quanto aos cânceres de pele causados, pela exposição ao sol, à platéia instigada a ficar dançando horas ao sol de fritar ovos na areia? Antes que contraponham, não há protetor solar que evite ao excesso.
Pediatras opinaram sobre os males causados pelo som às crianças pequenas.
Agora que a barulheira parou, consigo escutar incautos defensores da ditatorial zorra instalada na Praia do Sonho em Janeiro de 2012.
O que eles dizem?
Chega, mano!
Que cara chato!
Mude-se para o Alaska!
Este é um conselho sábio e mais simples que uma Ação Civil Pública.
Quem estiver incomodado que se mude.
Farei isso.
Não para o Alaska, pois o frio causa-me sinusite e não simpatizo com a Sarah Palin.
Entretanto, apesar de apreciar muito as belezas naturais de Itanhaém, no verão de 2013, provavelmente, farão a zorra na praia sem o dinheiro de meus impostos.
Vendo um apartamento, frente ao mar, na Praia do Sonho.
Preço a combinar.
O comprador receberá, no ato da escritura, um par de protetores auriculares usados e inúteis.

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