15 novembro 2011

ENTERRO DO QUERENCIO (quase cordel)

Vilarejo em silêncio
Quando a noticia correu
Morreu o seu Querêncio
Antes ele do que eu

Raquel caiu em pranto
Desses de desesperar
Tido quase como santo
Pelo povo do lugar

O padre se lamentou
A perda do sacristão
Porque não me esperou?
Queria dar extrema unção

Na hora do velório
Todo mundo apareceu
Que nem festa de casório
Quem não foi, diz que perdeu

Nem é bom lembrar
Confusão já começou
As beatas a rezar
Carpideira enciumou

Na viúva, a Raquel
Chegou um desconhecido
Foi mostrando um papel
Dívida do falecido

Zé do Empório escutou
E se manifestou
Se for pra ser assim
Também devia para mim

O Mané da Padaria
Foi ao padre e cochichou:
Tem vinho da sacristia
Que ele levou e não pagou

O Toninho lá do bar
Tomou coragem e reclamou
Minha mesa de bilhar
Com o taco ele rasgou

Murmurou uma mocinha
Da casa do pecado
Teve uma vezinha
Que eu lhe fiz fiado

O que é ruim também piora
Surgiu dona Esperança
Veio na última hora
Mostrar o pai para a criança

Querêncio deitadinho
Não podia reagir
Com cara de santinho
Parecia até sorrir

Raquel quase desmaiou
Só pode ser maldade
O cunhado confirmou
Tudo mesmo era verdade

Gritou enraivecida
Que vá logo para o inferno
Pra chegar bem na outra vida
Ainda lhe comprei um terno

Já vai tarde seu safado
Nem olhou para o caixão
E saiu de braço dado
Com um tal de Ricardão

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