Descobri não ser quem pensava ser, logo deixo meu passado para reencontrar minha família.
Sou ou não sou quem sou?
Se depender de meus avôs, não sou neto deles e sim de outras pessoas que jamais imaginei existirem.
Se os leitores estão achando o texto meio confuso, imaginem a minha cabeça ao descobrir que meus avôs maternos não eram eles e sim... (Ah! coloquem o que quiserem, oh! raios).
Eu que sempre admirei o Vô Mané e a vó “da parede” – não a conheci, exceto pela foto no túmulo – depois de mais de cinqüenta anos descubro que não eram eles.
Acho que minha mãe sempre quis revelar esse segredo. Várias vezes, disse-me que a cegonha me trouxera, encontrara-me dentro de um repolho, numa caixa de sapatos – não! isso foi em Monthy Pyton –, abandonado na porta da igreja.
Não a condeno!
No fundo, talvez tenha morrido sem saber que ela sim não era filha de seus pais.
É provável.
Uma coisa bate fundo em minha dúvida. Meus avôs não eram eles, mas meus bisavôs eram.
Raios! Raios! Raios!
Custei a entender. Mas tentarei explicar!
Tentava a obtenção da cidadania portuguesa.
Se Marisa (não a Tommei, que ganhou o Oscar) é italiana, porque eu não posso ser português? Só porque meu apelido é italiano e meu avô carcamano registrou doze filhos com sete apelidos diferentes?
Pus-me a desvendar a árvore genealógica.
Meu avô Manoel nascera no final do século XIX, num vilarejo cheio de terrinha no continente. Ele e milhares de Manuéis.
Manoel que era bom mesmo, nenhum.
Isso se conserta, dirá o atento leitor.
Respondo: claro! Dá um pouco de trabalho e, de fato, não faz tanta diferença. Difícil está de ensinar o galo. Acostumou-se com o cocorococó e não quer de jeito algum cantar cucurucucu.
Mané pra lá, Mané pra cá foi o de menos.
Quem?
Maria de Lourdes?
Não tem ninguém com esse nome, não!
Tem que ter.
Não tem...
Tem...
Não tem...
Ai! Jesus!
Maria de Jesus tem... Dezenas...
Maria de Jesus era a bisavó.
Tem Maria de Jesus filha de Maria de Jesus.
Um aparte! Não entendo por que minha mãe dizia tanto que queria ser filha de Maria? Será que era para aumentar a confusão?
Oh! Gajo! Veja se a Maria de Jesus filha da Maria de Jesus era filha do Antonio filho do Francisco. Esse Francisco teve um monte de filhos, mas nenhum Mirosmar.
Era!
Outra dúvida paira sobre o enevoado.
Será que meu avô Manalgumacoisa desposou a Maria certa ou casou-se com a mãe dela para livrar-se da sogra?
Dirá o leitor: Que confusão, minha Nossa Senhora de Lourdes...
Lourdes, não! Por favor! Lourdes é na França. E nem remende com Fátima, que ela apareceu depois da confusão.
Averbações para lá, averbações para cá e quase tudo certo, exceto por estar ouvindo vozes.
Deve ser um bate-papo no além. Pedrão conferindo se os Manuéis e Manoéis estão nos lugares certos. Minha avó ele que se atreva a conferir. É de Jesus, xará. Vai se meter com o filho do Chefe? As Marias são todas de Jesus e pronto.
Posso até obter a cidadania, mas aí será que estará correta?
E se a Lourdes e o Manoel existiram e eram espiões? Mudaram de nome para enganarem os agentes da KGB e CIA?
Improvável, pois elas não existiam.
Francamente, não sei mais quem sou.
Nem sei se existo.
Sou um fenômeno da natureza?
Um ET?
Coisa de louco, sô!
“Solta eu”, enfermeiro! Solta! Desta vez, não tenho culpa.
18 janeiro 2011
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