Até que um dia, o
mais frágil deles... arranca-nos a voz
da garganta... E já não podemos dizer nada. (Maiakovski)
Lá pelo ano 33 d.C., alguns primatas viram outros
primatas arremessando algo em direção a uma fêmea. Primeiro acharam que jogavam
bananas para alimentá-la.
Mas, não!
Eram pedras.
A fêmea cometera um crime imperdoável.
Um dos primatas falou algumas palavras e pararam os
arremessos.
Dias depois, primatas - Erectus, gorilas e macacos-prego –
viram àquele primata passar e arremessaram pedras.
Ficaram assistindo ao desfile.
Soube-se que iria ser pregado por ser culpado de crimes
imperdoáveis.
Deixaram pregar.
Não era com eles.
Bananas aos macacos!
A todos os macacos.
Aos orangotangos, chimpanzés, micos leão-dourado.
Viva a macacada!
Viva a macacada!
Esses primatas...
À falta de pão... banana e circo, desfile pelas ruas da
Galileia. Pela Paulista. Pelo Sambódromo.
Cabeças cheias de bananas ao melhor estilo Carmen
Miranda.
Yes! Nós temos bananas.
Por toda parte.
Nem precisa plantar.
Primatas se multiplicam.
Tem banana aí, Painho?
Pra todo mundo. Pra dar e vender.
Quase nada mais ao antigo preço de banana.
O preço a ser pago anda meio alto.
Quanta custa a ética? A dignidade? A capacidade de
entendimento ao respeito que merecem todos os macacos desde o respeitável e admirado
Dr. Australopitecus até o humilde Sr. Inominado que por falta de galho, dorme
no chão?
Cada macaco deveria ter seu galho.
Mas não tem galho para todos.
Isso se resolve.
Lei da Selva.
Acerte-se uma pedrada no macaco e tire-o do galho.
Atirem-se pedras, sem entender-se o espelho, que tantas
vezes atingido, nem sente mais as trincas, quase transformado em areia.
À falta de pedras, joguem bananas.
Um primata, em 2014 d.C., pegou a banana e comeu-a, mesmo
correndo o risco de levar cartão amarelo.
Que falta de educação jogar a casca no gramado!
Reza a lenda que aquele primata de 33 d.C. ficou feliz
por haverem parado de jogarem pedras sobre a primata fêmea.
Depois, cansado, sentou-se e...
Comeu as pedras?
Deve as estar digerindo até hoje face a decepção quanto a
ilusória e efêmera vitória.
Pois em verdade, em verdade mesmo, os primatas nunca
pararam de jogar pedras em primatas.
Apenas mudam o alvo. E o formato da pedra.
Pedras. Bananas. Madalenas. Genis. Judeus. Negros. Desaforos.
Injustiças.
Engolimos tudo. Todos os dias.
Para que importar-me com uma banana jogada num primata?
Não é comigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário