05 maio 2011

CORAÇÃO DE MÃE

Fiz este coração para você, entregando à mãe um mal formado origami construído numa folha de jornal.
O garoto demonstrou felicidade com o carinho da mãe lhe retribuindo o presente. Ela afagou sua cabeça, deu-lhe um beijo e puxou-o para seu colo.
Pessoas que estavam em pé no ônibus sorriram desarmadamente diante dos gestos de afetividade que o garoto e sua mãe trocavam acumpliciados.
A dupla simples havia subido no ônibus um ponto antes.
Pelo uniforme surrado, muito provavelmente, era aluno da escola de educação infantil municipal da região.
Pela conversa ele queria comprar um presentinho para o dia das mães.
A tradicional desculpa do “não estou precisando de nada” parecia apenas retratar a impossibilidade daquela mãe em adquirir qualquer bobagem à prestação ou no “um e noventa e nove” para se presentear.
Revirou a sacola e entregou um carrinho ao filho, que se pôs a manobrá-lo no vidro do coletivo, num “vrum-vrum” a imaginar-se piloto de fórmula um. Ou motorista de ônibus, como convém imaginarmos o destino de pessoas mal-nascidas.
Ajoelhou-se no banco e começou a conversar com o passageiro de trás, numa cena inimaginável na cidade grande.
Você tem carro, indagou.
Ao ver o sinal assertivo, reperguntou, então porque anda de ônibus?
Um sorriso desconcertado foi a resposta.
Agora de pé no colo da mãe, que se apertara para que alguém mais sentasse, voltou para as manobras na janela.
Aproveitou uma curva imaginária e beijou a mãe, repetindo que queria comprar um presente para o dia das mães.
Mas você já meu o coração, retrucou a mãe.
Onde a senhora guardou?
O de papel está na minha bolsa, o seu – apertando com o dedo o peito do menino – está aqui, apontando para o próprio peito.
O menino fez cara de desentendido.
A mãe riu.
Olhou pela janela, apressou-se, apertou a campainha, pediu licença e desceu do ônibus.
Levou todos os olhares a acompanhá-los caminhando pela rua até perdê-los do alcance de visão no trafegar do ônibus pela avenida.
Mas não tinham ido embora totalmente.
Deixaram um pedacinho de coração em todos.
Muitos, e eu inclusive, devem estar querendo aprender como se faz a felicidade num pedacinho de jornal.
Alguém pode me ensinar a dobrar um coraçãozinho de origami?

Nenhum comentário: