Louve-se o Rei da Bola
E pretos como o Cartola,
Clementina de Jesus.
Nenhum entrou de sola
Carregaram sua cruz
Espalharam muita luz
Negros mais que perfeitos
Não falaram de Angola
Acima de preconceitos
Sem rancores quilombola
Uniram a sua maneira
Toda a nação brasileira
Imperdoável o holocausto
Vivido por antepassados
Mas estou um tanto exausto
De ouvir a mesma cantilena
Não sei se vale a pena
Remexer nesses pecados
Tantos penaram nesta terra
Índios que aqui estavam
Feitos de gato e sapato
Mortos os que lutavam
Fugiram para a serra
Esconderam-se no mato
Meu avô, um carcamano
Braço dado uma gestante
Mão de obra bem barata
Sem ter na carne a chibata
Dentro do caucasiano
O sofrer bateu bastante
Também não acorrentados
Olhos puxados ludibriados
Atravessaram oceanos
Estranhas caras amarelas
Em sonhos traziam planos
A este país de mazelas
Como seria sem essa gente?
Sem Giovanni anarquista?
A perseverança dos nisseis?
E quanto imigrante valente
Fugidos de ódio nazista,
Por discordarem dos reis
De suas seculares dores
E sofrimentos no coração
Todos com sua seqüela
Exiladas raças em união
Embora proibidos amores
Do sangue fizeram aquarela.
Todos tiveram seu medo
Flagelos, penares, cicatrizes
Cada qual em seu degredo
Finais nem sempre felizes
Torçam-me mil narizes
Aponte-me seu dedo.
Pra que ranços ancestrais
Futucando antigas feridas?
Dores diversas? Rangidas
Nas senzalas, muito mais!
Mas não são todos culpados
Dos negros escravizados
É preciso que se revele:
Desnude-se além da pele!
Não é preciso ser sábio
Hoje a diferença social
Não é a grossura do lábio
Está além da questão racial
Velhos, jovens, meninas
Estendidos em papelão
Esmolando nas esquinas
Rastejando pelo chão
Morrendo sem ter leito
Misérias de todo jeito
Nessas cenas do cotidiano
Parodio o negro Solano:
“De toda cor, sem ter um nome,
Tem muita gente com fome”
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