07 março 2013

SARAUS E RODAS DE POESIA



De definições diferentes, saraus e apresentações de poetas chegam a confundir-se.
Este texto não pretende dizer que um é melhor que outro, mas diferenciá-los e emitir opinião pessoal.
Saraus podem apresentar todos os tipos de arte. Música, pintura, artes plásticas, performances e até, se sobrar espaço, poesia. Não nos esqueçamos da fertilidade de idéias da Semana de Arte Moderna de 1922, que renovou conceitos artísticos.
A Roda de Poesias caracteriza-se por abrir espaço apenas à poesia. E quanto espaço a poesia abre. Especialmente a troca de idéias entre seus participantes, a descoberta de diferentes formas de manifestação escrita, inclusive com o plágio criativo, e até a formação de parcerias na construção da literatura.
Nos últimos anos participei ativamente de múltiplos saraus, mas apenas de algumas raras rodas de poesia.
Cansaram-me os saraus. Sem abandoná-los, passei a ir a poucos..
Embora seus participantes sejam, em sua ampla maioria, competentes na arte que praticam, os saraus tornaram-se repetitivos ao meu gosto. Fartei-me de ouvir as mesmas canções durante dois terços ou mais de cada evento, restando aos poetas parcos segundos, entre as cantigas, para apresentar sua poesia. Assim, tipo um comercial para as pessoas se prepararem para o próximo cantor se apresentar.
Mas, se é disso que a maioria do público gosta. Ao show... Abram-se as cortinas.
Diferentemente das rodas de poesias, onde podemos prestar toda atenção no poeta, perguntar-lhe o que quis dizer, sugerir uma pequena alteração num verso, pedir o texto para relê-lo. Claro para isso necessário eliminar-se todas as suscetibilidades e estar pronto para aprender e aceitar o novo, uma vez que, salvo alguns – desculpem-me - repetidamente “enluarados”, “estrelados” ou “sempre apaixonados”, nenhum poeta é melhor ou pior em sua arte. Apenas diferentes.
Lembro, ainda, que nem toda poesia é feita para ser apresentada em público. Há, minimamente, três espécies de poesia.
Poesias para serem declamadas, rápidas para que a atenção do ouvinte não se disperse, poesias para serem lidas, mais longas, onde se permite prestar-se maior atenção a cada segmento da poesia, as articulações de rimas, os encadeamentos de versos e ainda há poesias para serem vistas, como a concreta.
Ainda há a possibilidade dos varais de poesia, onde cada leitor segue sua velocidade, pode copiar versos, voltar-se ao verso anterior para entendê-lo melhor. Há um segundo sentido sendo aguçado. De quebra, ainda talvez, tenhamos a oportunidade de se aprender novas palavras, sem vergonha de ficar com aquele jeito de não entendi nada.
Enfim, passadas as rápidas considerações, cada ao leitor pensar sobre o assunto e encaixar-se onde melhor lhe aprouver.
Para terminar um pedido:
Se souber aonde há roda de poesias, mande-me informações, pelo 
email: plugal01@gmail.com 
Um grande abraço a todos os poetas. E aos que não são também.

06 março 2013

TABU



Sempre me lembro.
Sentados na sala.
Meu pai e eu.
TV antiga.
Ganha usada.
Sintonia ruim.
Bombril na antena.
Preto e branco.
Todos os personagens
Ansioso não tirava os olhos.
Vai ser hoje.
Tinha de ser.
Sofrimento juvenil.
Promessas à imagem na parede.
Hoje já não creio nisso.
Foi-se metade.
Metade da fé perdida?
Que não perdêssemos servia.
Era costume. 
Pedrada de Paulo.
Lá no alto.
Era hoje, não é pai?
Ralhou: Senta...Não grite!
Olha lá, olha lá!
Outra vez...
Minuano...
No cantinho.
Mais uns miinutinhos.
Terminara um sofrimento.
Abracei meu pai.
Fui dormir feliz.
Seis de março de 1968.
Faz 45 anos.
O pessoal do Rei e Santos era vencido
Dois a zero.
Acabava-se o tabu...

 

A foto é do jogo seguinte, mas foi esta equipe que derrotou o Santos.

05 março 2013

PININHA NA RINHA DO MMA



Qual a desculpa de hoje, Pina?
Não me olhe com essa cara, dona Gertrudes.
Foi o ônibus, o congestionamento, falta de energia no trem, despertador atrasou?
Tudo isso e nada disso, Gegê.
Gertrudes, por favor, que hoje não estou para Gegê. Estou atrasadíssima para a Academia. Fala logo, a desculpa...
A senhora não me deixa falar...
Desembucha...
Foi o seu Takeo...
Ora, Pina... Até o Sr. Takeo vai levar a culpa de seus atrasos. Tenha a paciência.
Verdade, Gegê... Eu passava no ônibus e vi que estava cheio de viatura na frente da casa dele.
O que aconteceu? Ele estava ferido? Foi assalto?
Não entendi direito, mas ele estava sendo algemado.
O que foi, fala logo...
Calma, ai! Eu desci do ônibus e fui tomar informações sobre o qüiproquó.
Sabe o que os poliça me disseram?
Claro que não!
Primeiro eles mandaram eu circular. Disse que estava circulando desde madrugada no ônibus, aí eles disseram que eu estava desacatando a autoridade e veio pondo a mão em mim. Aí, eu falei para ele que ia contar tudo para minha patroa, que ela era mulher de um repórter e ia denunciar “eles” na TV. Eles ia tudo aparecer naqueles programas da tarde.
Está bem, Pina! Agora conta por que estavam prendendo o Sr. Takeo.
Eu comecei a gritar: Takeo, Takeo, Takeo... O que aconteceu? Um poliça com duas estrelinhas na lapela falou grosso: Ele cometeu uma contra invenção. Eu respondi: O Takeo não é inventor. Ele é, Gegê?
Contravenção, Pina, contravenção. Que contravenção ele cometeu?
Sei lá! Se eu souber o que é isso posso explicar...
Bom, volta a fita. O Sr. Takeo foi preso por que?
Disseram que ele tinha galo no quintal.
E daí?
Também não entendi e pedi para explicarem: Disseram que ele estava treinando os galos para uma tal de rinha...
Ai! O Takeo fazendo rinha de galo? Isso é piada. O Takeo cria umas duas ou três galinhas por que gosta de ovos naturais, sem produtos químicos.
Pois é... Mas, eu tive uma idéia para soltarem o Takeo,
Ai, ai, ai, ai, ai... Que você fez?
Falei que os galos eram encomenda da minha patroa para fazer canja.
Canja de galo, Pina?
Sei lá, com essas modernidades, galo pode ser galinha.
E soltaram o Takeo?
Eles falaram que iam vir aqui investigar se era verdade... Se eles aparecerem, a senhora confirma.
Está bem! E o Takeo?
Perguntei para um moço que estava assistindo a confusão o que era rinha. Com paciência ele explicou... Os galos ficam num cercado lutando até sangrarem e se matarem. Demorou um pouco, mas quando entendi, virei mulher-macho... No bom sentido... Comecei a gritar: Se o Takeo está contravertendo (existe isso, Gegê?) tem um monte de gente na televisão fazendo igual e eles ganham até dinheiro.
Como é que é, Pina?
Eu vi o marido da Zefa assistindo. Dois homens entram no cercado e ficam se batendo até sangrarem e um desistir.
Isso é MMA...
O que é isso?
Artes Marciais Mistas. Uma luta onde vale quase tudo.
Homem pode e galo não pode? Não entendi. A senhora pode me explicar a diferença?
Acho que os dois estão errados, mas fazer o que? Briga de galo é proibida, MMA não é... Bem, mas o Takeo? Os policiais o soltaram?
Em parte...
Como em parte?
Colocaram ele na viatura, mas tiraram as algemas.
E para onde foram?
Disseram que iam para a Delegacia, mas antes iriam confirmar a história que eu contei...
Que história?
Da canja, ora...
Ai, não, Pina... Assim não dá... Tocaram a campainha... Vá lá, veja quem é?
Vixe, Gegê...  São os poliças... Deixo entrar ou digo que não está?