22 abril 2011

QUEM É ESSE NA FOTO?

- Cuidado! Não coloque os dedos nelas para não engordurar mais. Estão quase desmanchando.
- Quem era este aqui, vó Hilda?
- Seu tataravô materno. Meu avô paterno
- Está amarelada. Não existia máquina digital naquele tempo?
- Claro que não!
- Então digitalizaram...
- Isso mesmo.. É assim que falam quando colocam fotos antigas no computador?
- Será que a máquina era daquelas que o flash explodia no rosto das pessoas?
- Não são tão velhas assim, mas fotos iguais a essa só eram tiradas no fotógrafo. Tinha que marcar hora.
- Oh! vó... Inventa outra...
- Verdade.
- Porque tão poucas fotos?
- Porque eram caras. Não eram como hoje em dia que se a foto não sai boa é só apagá-la da câmera. Nos filmes cabiam no máximo 36 poses.
- Pose? Era preciso posar para a foto? Dizer xis?
- Não se tirava foto de qualquer coisa, nem de qualquer jeito. As pessoas tinham que se concentrar para saírem bonitas na foto. Eram avisadas que a máquina ia disparar. Um fotógrafo teve a idéia de colocar uma gaiola atrás da câmera e gritava “olhem o passarinho!” quando ia disparar a foto para que as pessoas olhassem para a câmera.
- Ah! Seria bom se tivéssemos mais fotos, não é?
- Era desnecessário. As fotos eram quase todas iguais. A diferença é que as pessoas ficavam um pouco mais velhas, as crianças crescendo. Raramente se alterava, aparecia alguém novo na família.
- Namorado?
- Que é isso, menino? Só entrava nas fotos de família quando casava. E bem casadinho. Não era assim como hoje que em cada foto sua irmã aparece com um namorado novo.
- A senhora já deu cada bola fora, hein! Lembra quando cumprimentou um dizendo o nome de outro.
- Nem me lembre. Hoje só dou um aceno. Mas, como eu vou decorar tantos nomes. Cada hora ela está com um namorado diferente. Deve ter um arquivo de fotos para cada um no computador
- Que nada, vó! Têm namorados que ela nem passa para o computador... E se passou, ela deleta.
- Ah! Ah! Ah! Essa juventude de hoje.
- Poxa, vó! Estou pensando numa coisa. Deve se desagradável se em cada foto a mãe aparece com um pai diferente.
- Nem me fale. E há tantas famílias com meio-irmãos hoje em dia.
- Por isso que os pais apareciam tão pouco nas fotos antigamente?
- Claro que não, seu bobo! É que antes do disparador automático, alguém tinha que ser o fotógrafo e essa incumbência era dos homens que sabiam mexer melhor nas máquinas. E geralmente era o pai.
- Achei uma com o “bisavô”.
- Isso mesmo. Essa ao lado dele, pequeninha, sou eu.
- Quem tirou a foto?
- Um vizinho, amigo da família.
- Como era o nome dele?
- A gente chamava de Zé Alemão.
- Era mais um José de nome complicado?
- Quase isso. Era Adolph, Wolfgang ou algo parecido. Acho que era fugitivo da segunda guerra.
- Ele sabia tirar bem as fotos. As pessoas estão bem centradas. Nenhum pé cortado.
- Era alemão. Bons de fotos. Desenvolveram a Rolleiflex.
- Que é isso?
- Uma das mais famosas máquinas fotográficas do século passado.
- Devia ser bem amigo, para o “bisa” deixá-lo pegar sua máquina. Ele ainda está vivo?
- Não sei. Ele se mudou do bairro quando eu era pequenina. Atenda ao telefone, por favor.
- É para a senhora.
- Quem é?
- Deve ser cobrança. Estão procurando Dona Hildegard Tavares da Silva Dantas.
- Já estou indo... O que será para me chamarem pelo nome completo?
- Posso ir olhando as fotos enquanto isso?
- Pode, mas cuidado... E sem muitas perguntas.

18 abril 2011

CÃO GUIA

Na última quarta feira do mês de Abril “comemora-se” o Dia do Cão-Guia. Este ano será o dia 27.
Quem não se encanta quando vê um deficiente visual acompanhado por seu cão-guia?
Logo vem a vontade de acariciar o cão.
Parece coisa de filme. Distante da gente. E realmente está um pouco distantes.
Apenas em 2005 entrou em vigor a Lei Federal 11126/05 universalizando no país o direito de acesso do cão-guia a qualquer espaço público.
O cão-guia é um divisor de águas para o deficiente. Transforma a vida daqueles que conseguem um. Passam a ter maior independência, facilitam seu deslocamento, ampliam a acessibilidade, dentre outras dificuldades do dia-a-dia.
Quem é esse animal?
As principais raças de cão-guia são: o Labrador, o Gold Retriever, o Pastor Alemão e seus cruzamentos. Cada uma destas raças possui exigências básicas para um cão-guia: um temperamento disposto e estável, tamanho e peso saudáveis e pêlos fáceis de se tratar.
Treinados para conduzir a pessoa de um lugar a outro em linha reta, parar nas mudanças de elevação (meio fio, escadas); e conduzir seu dono em torno dos obstáculos, inclusive aéreos, tais como galhos das árvores e telefones públicos. O usuário deve saber os sentidos (direção) para alcançar os destinos desejados e dar ao cão os comandos verbais para chegar lá.
O trabalho de um cão-guia requer habilidade e comunicação. Os cães quando estão com a “guia de serviço” devem evitar distrações, como ruídos, cheiros, outros animais e pessoas, a fim de se concentrar no trabalho de guiar. O usuário aprende a reconhecer e seguir o movimento do cão, como p.ex. quando virar em uma linha reta a fim de evitar obstáculos. O usuário também deve saber como prosseguir com cuidado quando o cão retarda ou para.
Antes do treinamento formal, cada filhote tem seu nível de sensibilidade avaliado. Esta informação ajuda a determinar como prosseguir no programa de treinamento dentro das particularidades de cada cão. São feitos exames físicos completos, por uma equipe de veterinários, a fim de determinar se os cães estão em boa forma, saudáveis e prontos para começar a treinar.
O cão tem vida útil de trabalho de oito a dez anos quando são aposentados e recolhidos a uma instituição que cuida deles, se o deficiente não tiver condições de mantê-lo.
Simples e bonito, não?
Seria mais fácil se isto fosse a realidade do Brasil.
Os menos de oitenta cães-guia existentes por aqui são em sua maioria cães labradores.
Não qualquer labrador. São importados. Vêm dos EUA.
A pergunta é rápida: Porque isso se há tantos labradores e pastores andando por aí?
A resposta também rápida e simples: O Brasil não tem nenhum programa de criação e treinamento para os animais, embora possua alguns treinadores capacitados e existam cerca de cinco milhões de deficientes visuais no país.
Há uma entidade que organiza a “importação” dos cães.
O IRIS – Instituto de Responsabilidade e Inclusão Social – OCISP que vive basicamente de trabalhos voluntários e parcerias, tem cerca de três mil deficientes cadastrados na esperança da chegada de sua vez de receber gratuitamente seu cão, obtido através da parceria com a Dog Leader (Michigan-US) que doa os cães.
Entretanto, há as despesas por conta do treinamento exigido pela Dog Leader. É necessária a ida do deficiente até os EUA por cerca de quatro semanas para um período de adaptação, que são pagos pela IRIS.
O custo é de cerca de U$ 15.000 (cerca de R$ 25.000,00)
O último cão trazido foi Toby (foto). Veio em 2008.
IRIS, em 2011, espera enviar quatro deficientes para o treinamento, mas depende de patrocínios e doações.
Qualquer pessoa (física e jurídica) pode ajudar. Acesse o site www.iris.org.br.
Verão como é fácil facilitar a vida de quem não pode ver.

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03 abril 2011

PINA E O BACALHAU


Gegê, tô saindo...
Pegou a lista, Pina?
Claro! Senão como eu vou me lembrar dos nomes estranhos que a senhora quer que eu compre no mercado?
Que nomes estranhos, Pina?
Olhe aqui... Petitpois, champinhon, grapefois, escargoti... Isso morde?
Ai! Pina! São nomes franceses. E precisamos aproveitar que o dólar está barato.
Dólar... Dólar... Não estou encontrando... Acho que a senhora se esqueceu de colocar na lista...
Pina! Dólar é a moeda americana.
Peraí, Ge! Que confusão! Os ingredientes não são da França? Lá a moeda é euro... Eu vi na TV.
Dai-me forças, minha Santa Joana D’Arc que hoje eu incendeio a Pina.
Pina! O dólar estando barato, o preço dos importados baixa e podemos comprar.
Ah! Por isso que o homem que dá notícia antes da novela falou que o bacalhau estava barato e ia ter muita fartura na Páscoa?
É, Pina!
Eu vou ter folga na Páscoa?
Pode ser... Sexta ou domingo...
Posso escolher?
Pode!
Que dia vai ter bacalhau?
Sexta, claro!
Então, eu folgo no domingo.
Dá para explicar a lógica do seu raciocínio?
Não é raciocínio. É curiosidade. Quero um pratinho desse bacalhau importado.
Ora, Pina! Todo ano temos bacalhau na Sexta da Paixão.
Mas, na quentinha que eu levo, só posso colocar batatas.
Piiiiinaaaaaa.... Não me irrite...
Calma, Gege! Mas este ano a senhora deixa levar um pouquinho de bacalhau importado?
Claro, claro...
Estou saindo...
Perai, Pina! Lá na sua casa, vocês não compram bacalhau na semana Santa? Não aproveitam as ofertas?
Oh! Gege! Que é isso? Na Vila, o pessoal só cheira bacalhau por falta de banho. Não sobra dinheiro para comprar essas coisas chiques não. Acho que nem o padre come.
Vocês não sabem o que é bom.
Saber, nós até sabemos... Não temos é dinheiro para comprar.
Mas está barato, Pina!
Sabe o que é, Dona Gertrudes... O bacalhau, o petitpois, essas coisas podem estar baratas, mas a gente gasta muito com bobagens.
Pobre é assim mesmo. Gasta muito com bobagens...
Pois é, Gê! A gente tem que gastar com arroz, feijão, farinha, condução. E essas coisas não têm preço em dólar. Só aumenta...
Pina! Vou ter que concordar. Compra um quilo a mais de bacalhau para você levar.
Obrigado, mas não vou comprar não.
Porque?
Se eu levar o pacote escondido no ônibus, podem pensar que estou sem banho.
Ora, não esconda.

Ai, Dona Gertrudes. Quer que eu seja assaltada?
Vai pro mercado, Pina.
To saindo...
A lista... Não esquece a lista...